sábado, 14 de setembro de 2013

Carta aberta aos pais do Samuel

Prólogo

Para quem não teve a oportunidade de conhecê-lo, resumo dizendo que o Samuel é a figura mais emblemática da Psicologia da UFRGS e ontem foi desbravar outros pagos. Não conseguimos nos despedir, mas isso talvez não fosse mesmo necessário porque ele vai seguir por aqui por muito tempo. Peço licença agora para me dirigir aos pais dele porque... Não sei por quê. Acho que porque eu gostaria tanto de abraçá-los que até dói. Mas não posso, então escrevo.



Carta aberta aos pais do Samuel

Ontem eu passei o dia inteiro chorando, ontem o dia doeu. Não os conheço pessoalmente, mas gostaria muito de ter estado com vocês para poder levar meu abraço. Eu não consigo nem imaginar o tamanho da dor que vocês estão sentido, mas estou mandando as minhas melhores energias para que vocês consigam, em meio a tanta dor, encontrar algum consolo por terem dado origem a um guri que fez desse nosso mundo um lugar melhor para se viver.

Vejam bem, eu pouco conhecia o Samuel. Mas também conhecia muito o Samuel. Nos meus quase 10 anos de Instituto de Psicologia, não consigo pensar em uma pessoa que tenha cativado tanto quanto ele. Não há outra pessoa que tenha circulado tão bem em todos os espaços daquele Instituto e, acreditem, essa não é uma tarefa fácil. Mas o Samuel não se importava, não pedia licença, ele circulava e pronto. E, de repente, estava em todos os lugares, sendo admirado, sendo amado.

Na impossibilidade de estar aí fisicamente ontem, tentei me conectar como era possível, então passei a acompanhar as mensagens na internet. E elas não pararam de chegar. 

O que a gente mais ouve quando alguém é tirado assim, tão de repente, do nosso convívio é: “puxa, eu não tive tempo de dizer tudo o que gostaria”, “eu não disse o quanto ele era importante”, “eu não disse o quanto o amava”. Com o Samuel, não. Com o Samuel foi o inverso. Muitas pessoas disseram, outras tantas pensaram: “eu te amo, te admiro e o que me consola é que eu te disse isso tudo”. Porque o Samuel provocava a expressão do que há de melhor nas pessoas.

O Viktor Frankl, um psiquiatra austríaco, costumava dizer que se a vida tem um sentido, então o sofrimento necessariamente também o terá. E, no meio de tanta dor, comecei a procurar um sentido em todo esse sofrimento. E acabei encontrando o danado no meio de todas as mensagens que li ontem.

A vida do Samuca foi tão breve quanto intensa e, em toda essa intensidade, ele conseguiu transmitir mensagens de paz, de amor, de companheirismo, de respeito à natureza, de luta por ideais. E talvez toda essa dor que estamos sentindo agora sirva para potencializar o legado que ele nos deixou. E talvez esse seja o sentido de todo esse sofrimento: continuar lutando, com ainda mais força, para construir o mundo com o qual o Samuca sempre sonhou e pelo qual sempre lutou.

(hoje comecei a ler a autobiografia do Gandhi, da qual ele tanto falava)

O Samuca era Batman, era Super-Homem. Exemplo. Força. Coragem.
O Samuca era amor. O Samuca é amor.
Muito obrigada por terem nos dado o Samuel.
Vocês podem ter certeza de que ele seguirá vivendo em todos nós.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. que lindo e perfeito!!!! REu ao contrário de vc não conheci o Samuel, somente seus pais, mas com certeza a fruta não cai longe do pé.
    Abraço

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  3. Tb não conheci o Samuel, mas estudei com o pai dele, pessoa espetacular...

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  4. Eu conheci o Samuel desde o instante em que Airi o conheceu! Meu único contato ocorreu às 18h55 de 13/9 quando Airi me telefonou aos prantos pedindo que eu orasse por ele e pelo conforto de seus pais. Eu o fiz, também em lágrimas, acalentando-o com o mesmo carinho que ela tem por ele. Samuel está vivo e vivo permanecerá na memória de todos que tiveram a ventura de partilhar de seu amável convívio...

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