quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Trick or treat?

Eis que chegou o famoso Halloween (ou Ralouím, em português).

Nunca entendi muito bem essa festa. Quando era pequena, meu curso de inglês fazia festa de Halloween e eu não conseguia captar qual era a graça. Cresci e... Continuei sem entender.

Até hoje.

Hoje é 31 de outubro. Halloween, portanto. Ou Dia das Bruxas. Ou Día de Los Muertos. Escolham.

Aqui em New Haven, o Halloween bombante acontece na minha rua. Com hora marcada. Sim, é estranho, mas tudo aqui nos Estados Unidos tem hora marcada. No caso do Halloween, das 18 às 20h.

O problema é que desde de manhã o dia estava meio estranho. Amanheceu cinza, continuou cinza, terminou cinza. Choveu de tarde. Garoou de noite. No alto da minha inocência, pensei: "putz, nada de Halloween, pobre das crianças".

Mas, por via das dúvidas, saí da universidade mais cedo, por volta de 17:45, e pedalei até em casa. E que bom que fiz isso!

Eu talvez more na parte mais legal de New Haven. Ou, ao menos, em uma das mais legais. Pois bem. Chegando perto de casa, comecei a notar uma movimentação diferente: tinha mais gente do que o normal. Mas, pensando bem, nada demais. Ao chegar na esquina de casa, notei que o movimento estava maior na quadra seguinte. Fiquei meio em dúvida, mas resolvi conferir. Conferindo, vi uma meia dúzia de crianças fantasiadas, recolhendo seus doces nas muitas casas que estão há tempos enfeitadas.

Legalzinho.

Então resolvi pedalar mais uma quadra.

E aí apareceram mais crianças. E mais casas enfeitadas. E mais pais e mães. E mais vizinhos felizes. E mais sorrisos. E aí eu fiquei patetando, olhando tudo isso e... quase provoquei um acidente (porque claro que eu não sou capaz de pedalar e olhar tanta coisa ao mesmo tempo).

Tive então uma ideia sensata e decidi deixar a bici em casa e voltar para a muvuca caminhando.

Foi a MELHOR ideia.

Fui caminhando pela rua e não sabia pra onde olhava. Por vezes, ficava abobada olhando para as crianças, radiantes em suas fantasias. Em outros momentos, fixava nos rostos felizes dos familiares que as acompanhavam. Em outros, ainda, ficava admirando as pessoas nas suas varandas ou a decoração das casas.

Vocês não têm noção. Quando eu falo em crianças, são MUITAS crianças. Dezenas e dezenas de crianças.

Fiquei olhando aquilo tudo, meio embasbacada, e, quando vi, estava com os olhos cheios de lágrimas. E eu nem estou na TPM. Mas sério!, é uma festa muito, muito bonita.

Crianças de todas as idades, mas principalmente as pequeninas, vestindo todos os tipos de fantasia, com aquela felicidade genuína que só crianças são capazes de ter. Pais! Muitos pais! (homens, porque as mães sempre participam de tudo mesmo, então não é surpresa...). Muitos pais fantasiados, dando uma força para os pequenos, como quem diz "tamo junto", e correndo atrás das suas crias.

Vi crianças vestidas de tudo quanto é tipo de coisa: vampiros, princesas, policiais, bruxas, bombeiros, tartarugas ninja (!), batman (e batwoman, que as meninas também querem ser batman), super homem, mulher maravilha, abelhas, borboletas, fantasmas, abóboras, patos, frankensteins, pânico, elefantes, ursos... Muitas, muitas fantasias! As minhas preferidas, disparado, foram as vacas! Que lindas as vacas (e vacos, que os meninos também querem ser vaca)! A menção honrosa foi para um pequeno de uns dois anos vestido com roupa de cirurgião. O pai também estava vestido de cirurgião. Lindos! Também tinha um pai, com quatro crianças (!), que estava ótimo vestido de Minion!

Abaixo, uma das vaquinhas (de costas, pra ninguém me processar) e o Minion:


Mas a melhor fantasia de pai foi de um cidadão que carregava um papelão branco atrás da cabeça. Vi o cara de costas, correndo atrás da filha, e fiquei intrigada: o que diabos o sujeito faz correndo, segurando um papelão atrás da cabeça?! O resto da roupa era normal. Então, apressei o passo e, ao ultrapassá-lo e olhar pra trás, não consegui segurar a gargalhada. Ele estava vestido de...




...



...



...




... Cesta de basquete! O cara segurava a tabela atrás da cabeça com uma mão e pendurava uma cesta no peito com a outra. Ri alto!

As casas enfeitadas eram um capítulo à parte. Uma das melhores de todas era essa aqui de baixo:

O melhor detalhe é o dinossaurinho de verde brincando com a decoração no canto direito da foto :)

A mesma casa, por outro ângulo. Agora também com um dinossauro vermelho e uma borboleta ;)
 




Nos filmes, a gente sempre vê as crianças batendo na porta das casas e dizendo: "trick or treat?", a frase símbolo do Halloween, que significa "travessura ou doce?". Aqui não precisou. Todos estavam em suas varandas, com bacias cheias de doces, esperando os pequenos.

Minhas bochechas já estavam doendo de tanto sorrir, quando vi uma casa sem nenhuma decoração e um senhor de seus 50 e muitos, 60 anos, com cara de executivo, sentado de terno no degrau da varanda, segurando uma bacia de doces. Ele estava sozinho, enquanto todo mundo estava rodeado de familiares e amigos. Parecia nem estar dando muito bola pra tudo o que estava acontecendo, acho que estava distraído no telefone. Mas ele estava lá. Sentado no degrau. Com doces na mão. Esperando as crianças.

Bah... Daí foi brabo segurar a maldita lágrima que estava há tempos brincando no canto do meu olho.

Não faço ideia de por que aquele homem estava sozinho, em uma casa sem decoração, oferecendo doces para as crianças. Só sei que, de uma forma ou de outra, ele resumiu pra mim o que é o Halloween e me fez começar a entender um pouco, finalmente, o sentido da festa, impossível de ser replicada em um lugar que não tem a cultura ralouínica. O que a gente faz no Brasil é uma imitação, na maioria das vezes barata, que peca não necessariamente por ser imitação, mas por não ter alma. Aqui, o Halloween tem alma. E é isso que faz a diferença. O Halloween é um dia das crianças com sentido. É reunião, é partilha, é alegria, é inocência, é integração. É vida.

Resumindo, é uma mistura extremamente profana de dia das crianças com Natal, só que à fantasia.

Depois de um tempo caminhando, ia voltar pra casa porque não queria ficar lá em pé na garoa, mas ao mesmo tempo queria muito ficar. Então, parei num mercado gourmet, que tem umas mesinhas na frente, e resolvi pegar alguma coisa pra comer. Não só fiz isso, como também peguei uma cerveja na liquor store que fica do lado (não sem antes perguntar se podia beber sentada na rua, que aqui é proibido beber na rua).

Pois bem. Lembra que eu disse que voltar caminhando tinha sido a melhor ideia? Mentira. Sentar ali é que foi a MELHOR ideia. DO MUNDO.

O que acontece é que o mercado estava participando da festa à todo vapor, tocando música assustadora e oferecendo doces para as crianças. Então o resultado foi que quase todas as famílias passaram por ali enquanto eu me deliciava com a minha cervejinha e meus frutos do mar em conserva. Talvez alguém tenha me olhado e pensado: "o que faz essa guria sozinha, sentada no mercado, rindo pra todo mundo que nem louca?". Mas não tem problema. Tomara que tenham pensado: "isso é Halloween".

Foi sensacional, simplesmente sensacional. Melhor Halloween ever. Tudo bem que também foi o único... Mas algo me diz que vai ser difícil algum outro ganhar desse.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Edição extraordinária: Sobre o amor!

Essa postagem não tem nada a ver com estudos, Yale ou New Haven. Nada disso...
Mas não vão embora, o texto tem a ver com angolandanças. Porque angolandar, afinal das contas, é viver. E viver é amar (ai, como sou poética! rsrs).

Na verdade, gostaria de compartilhar com vocês um comentário que fiz em um outro blog. Era pra ser algo super rapidinho, só uma resposta para uma pessoa, mas no fim ficou tão grande e falou tanto sobre o que penso e sinto, que achei que seria legal colocar aqui também.

Então, antes, deixem eu fazer uma contextualização:

No início do mês, duas grandes amigas minhas se casaram. Sim, amigas. Duas. E não, não foi um casamento duplo... Elas casaram uma com a outra mesmo.

Para minha dor (ainda não me recuperei completamente do baque), não pude estar presente na festa. Porque, né, eu to aqui e elas tão aí (ou lá, dependendo de onde vocês estiverem...).

Por outro lado, para minha ENORME felicidade, parece ter sido uma das cerimônias mais lindas que já se viu. Não teve pompa, não teve superprodução, longe disso, mas teve MUITO amor. E como foi tão lindo, e tão emocionante, e tão sensacional, e tão... incomum (sim, ainda é incomum duas mulheres se casarem em Porto Alegre), virou notícia. A Lu, umas das noivas, publicou um relato lindo nesse blog aqui.

Tudo muito bom, tudo muito bem, fui ler os comentários da postagem sobre o casamento.

Abre colchetes:
[Eu ADORO ler comentários de blogs. Adoro mesmo. Leio até quando são aquelas grosserias que as pessoas gostam de publicar anônimas e que nunca teriam a coragem de assumir na vida real. Acho que os comentários de blog dizem muito sobre a sociedade. Então eu ADORO ler. Só gosto ainda mais quando é aqui, no angolandanças, então deixem de ser preguiçosos e manifestem-se na caixinha! :D]
Fecha colchetes.

Pois bem, no meio dos comentários (que certamente estão sendo moderados, porque não aparece nenhuma grosseria) encontrei um que me deixou muito tocada. Foi o comentário da Aline Maria. Eu não faço a menor ideia de quem é a Aline Maria, mas ela escreveu assim:

  • aline maria diz:17 de outubro de 2013
    juro que me esforço para compreender, sem conseguir… mas não estou julgando, pelo contrário… a culpa é minha mesmo, está fora da minha capacidade de compreensão… para mim, falta algo, falta a figura masculina, o cara grande e mais forte que protege, enquanto que nós mulheres encantamos com doçura e beleza… falta o oposto justamente, se um estar preocupado com o smoking enquanto que a moça esta preocupada em ser a mais bela mulher da festa… desculpa, mais uma vez… quero deixar claro que sou a favor de que pessoas do mesmo sexo tem o direito de se casarem, de adotar e de ter filhos…como qualquer um de nós… chega a ser cruel alguem tipo um feliciano idiota qualquer, querer proibir ou dizer que isso é doença… mas eu sinceramente nao consigo me ver dentro de uma relação aonde nao exista o macho… me perdoa a sinceridade,…. mas esta nao seria eu MESMO. a gente faz de tudo para ficar lindas e sexyes, e elas usam jeans no casamento? com all satar??? e cabelos curtos??? olha… eu nao entendo mesmo… qual é o sentimento, eu nao entendo, me perdoa…. que sejam felizes, e que as crianças possam ser adotadas, tenho certeza que sera um lar magnifico, mas eu…… nao entendo. abraços e felicidades…
Vejam que a Aline Maria entrou em um blog sobre casamento, provavelmente esperando ler sobre as bodas de algum casal tradicional (homem + mulher), e deu de cara com a notícia sobre o casório da Lu e da Suzi. Deve ter sido um choque. Imagino a Aline Maria olhando para a tela do computador, se questionando se estava entendendo certo o que significava aquelas duas mulheres de mãos dadas. Mas mesmo assim a Aline Maria se deu ao trabalho de ler. E leu com muita atenção porque mencionou vários detalhes, como a roupa das gurias, o corte de cabelo, e o desejo delas de adotar uma criança. A Aline Maria não só leu, como sentiu o desejo de compartilhar o que estava sentindo. E não só compartilhou, como, em um texto cheio de angustiados três pontinhos, desabafou sobre a sua dificuldade em entender aquela relação. Mas, mais do que tudo (ou talvez seja melhor dizer, MESMO com tudo), a Aline Maria fez questão de pedir perdão (!) e de dizer que deseja que as gurias sejam bem sucedidas na adoção e que sejam felizes.

Não sei sobre vocês, mas eu fiquei muito comovida com o comentário da Aline Maria.
Talvez por estar acostumada a ler os comentários de blogs e notícias. Talvez por saber que tem MUITA gente que, assim como a Aline Maria, não consegue entender. E talvez por saber, também, que a maioria dessas pessoas tem medo do que não entende e que, acuada pelo seu medo, reage agredindo. São raros, raríssimos, os que conseguem ter a nobreza que a Aline Maria teve para admitir que não entende e para, mesmo assim, conseguir desejar felicidade.

Vocês podem ler a resposta que a Suca deu para a Aline Maria lá no blog. Foi linda!
Eu não resisti e decidi responder também porque achei que a Aline Maria merecia toda a atenção do mundo. Ela parece ser uma pessoa de bom coração. E, nesse mundo doido em que a gente vive, pessoas de bom coração precisam ser bem tratadas.

Abaixo, a minha resposta para a Aline Maria.


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O comentário da Aline Maria me encantou muito e eu espero de coração que tu ainda estejas lendo o que as pessoas estão escrevendo aqui, Aline, principalmente o que respondeu a Suzi.

Queria te dizer, Aline, que eu acho que entendo a tua angústia.
Desde sempre, a gente é ensinada a pensar de maneiras específicas sobre determinados tópicos. Alguns deles tu citaste no teu comentário: o homem tem que ser forte, a mulher precisa ser delicada, mulher bonita e feminina usa vestido e cabelos compridos, um casal é constituído por um homem e uma mulher...e por aí vai.

Eu entendo que seja confortável pensar desse jeito, porque, afinal, tudo fica regrado e previsível: a gente sabe exatamente como as coisas devem ser. E entendo, também, que gere alguma angústia quando algo foge do padrão com o qual estamos acostumados.

O que acontece, Aline, é que, por mais que esse mundo certinho e previsível ao qual te referes possa ser confortável, ele também é um bocado engessante. Porque quando a gente se prende muito a regras e rótulos (que foram impostos por quem mesmo?), acaba limitando as nossas possibilidades de conhecer (e se encantar!) pelo que é diferente. O mundo tem tantas e tantas possibilidades, Aline. São infinitas! Muitas e muitas mais do que aquelas que nos fizeram acreditar. O amor, então, nossa!, o amor não merece nenhuma barreira. O amor deveria arrebatar. Sempre.

Eu estou te dizendo isso porque houve um tempo em que eu também não sabia que essas possibilidades existiam. Eu fui ensinada, desde pequena, que meninas namoram meninos. Ninguém me contou que poderia ser diferente (e que não seria uma aberração se fosse diferente). Então, o que eu fiz? Namorei com meninos, claro. E eu gostava até. Era bom, era divertido. Mas não tinha aquele algo a mais, sabe? Desde pequena, também, eu lembro de ter sentido, vez ou outra, meu coração acelerar, um frio na barriga, quando estava perto de alguma amiguinha. Mas eu ainda vivia naquele mundo quadradinho sobre o qual te falei antes, então acabava achando que era apenas uma amizade muito grande mesmo. Eu nem imaginava que era possível ser outra coisa. O amor romântico entre duas mulheres era algo que simplesmente não existia como possibilidade na minha cabeça. Eu não sabia que isso poderia acontecer.

Mas aconteceu.

Eu conheci a minha companheira há 7 anos e estamos juntas desde então. É um amor tão bonito, Aline. Tu não fazes ideia! Mas sabe o quê? Se te angustia não entender esse sentimento entre duas mulheres (ou dois homens), faz assim ó: não pensa que são duas mulheres. Pensa apenas que são duas PESSOAS. Duas pessoas que se amam. Porque essa é que é a verdade: o amor ocorre entre pessoas. Se é mulher, se é homem, se é um homem que se sente como mulher, se é uma mulher que se sente como homem... Isso não importa. O que importa é que somos pessoas, apenas pessoas. Que amam! Olha que bonito :)

Mas pra encerrar, que isso aqui está gigante, queria te contar também que ano passado minha companheira e eu escolhemos a Suzi e a Lu para serem madrinhas da nossa união estável (não, ainda não casamos, mas está nos planos). Além de elas serem grandes amigas, o principal motivo da nossa escolha foi o fato de elas serem um exemplo de casa
1l modelo nas nossas vidas. E isso não tem nada a ver com o fato de serem duas mulheres. Elas são exemplo de CASAL, entendido aqui como pessoas que se amam tanto, mas tanto, que decidem compartilhar uma vida. Não tenho, entre TODOS os meus amigos, independente do rótulo que carreguem (hetero, homo, bi, tri ou tetrassexuais...), duas pessoas que se amem mais, que sejam mais companheiras (e há tanto tempo!) do que essas duas.

Felizes as pessoas, Aline, que têm a honra, a oportunidade de ter um amor assim nas suas vidas. E isso, realmente, não tem como entender, só dá pra sentir :)

Um forte abraço!
Morena

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Yale University: Parte II - O Presidente

A organização das universidades norte-americanas é um bocado diferente das brasileiras. Na verdade, é tão diferente que eu ainda não entendi muito bem, então não vou conseguir explicar direito... Por ora, só é importante que vocês saibam que aqui as universidades têm presidentes e que eles são a figura que ocupa a mais alta posição hierárquica da instituição.

Ah, Airi, então eles são que nem os nossos reitores?

Hmmm, não, não exatamente... Se bem que, por outro lado, sim.
Em termos hierárquicos, eles de certa maneira se equivalem, já que os dois são as figuras mais poderosas das suas instituições. Mas acho que, em termos de função, a figura do reitor também tem algo de parecido com o que aqui eles chamam de "provost", que é o cara que cuida de tudo que diz respeito à vida acadêmica da universidade. Ou talvez o provost seja como todos os nossos pró-reitores reunidos em uma pessoa só. Vai saber...

(Eu disse que não ia conseguir explicar. Alguém aí que entenda melhor o sistema, me ajude, por favor)

Tá, mas então o que o presidente faz?

Huun... A primeira resposta que me ocorre no momento é "apresenta os ganhadores do Prêmio Nobel", já que foi o que eu mais vi o presidente de Yale fazendo até agora (haha!). Mas acho que o mais correto seria dizer que, além de ser o rosto da universidade e responder por ela, ele também é o cara que corre atrás dos pilas (ou da bufunfa, em português). Se bem que eu posso ter entendido errado, claro.

Mas enfim, não importa. Tudo isso foi pra contar pra vocês que Yale tem, desde domingo, um novo presidente: Peter Salovey. Vocês podem estar pensando: "tá, e daí, grande coisa". E daí que é uma grande coisa, sim. Não que eu soubesse disso antes, mas aparentemente dei sorte de estar aqui nesse momento porque a última vez que houve uma troca de presidentes em Yale foi há 20 anos. Mais do que isso: nos 312 anos da universidade, esse é apenas o 23º presidente empossado.

O resultado é que, desde que eu cheguei, o povo aqui está MUITO empolgado. No início eu até cogitei que fosse pela minha presença, mas aparentemente não era ;) Todos estavam esperando ansiosos a posse do presidente, que aqui eles chamam de "inauguração".

Me permitam abrir colchetes aqui embaixo porque tenho uma historinha engraçada sobre o termo inauguração:

[Em janeiro, estavámos passeando em Washington, a Loira e eu, e nos deparamos com várias arquibancadas montadas, um pequeno palco, e muita, mas muita segurança. Super curiosa, estava doida para saber do que se tratava e prontamente fui perguntar a um policial. A Loira, neste momento, já estava a uns 50 metros de distância porque ela tem vergonha das minhas perguntas. Mas tudo bem. Fui super simpática, para o cara ver que eu não era uma ameaça em potencial, e perguntei: "o que que vai acontecer aqui?". O policial me olhou com cara meio desconfiada e respondeu um sonoro "hein?". Eu: "é, essas coisas todas aqui são pra que?". Ele sorriu, vendo que eu claramente não representava perigo, e disse: "pra inauguração". Eu, já pensando nos brindes que sempre dão em inaugurações de coisas: "Inauguração, é? Inauguração do quê?". Ele me olhou, cada vez mais curioso (deveria estar se perguntando de onde diabos essa criatura saiu), e respondeu: "hmmm, do presidente?". Eu: "do presidente?". Ele: "sim, do presidente". Eu: "ooohhh!, o presidente, presidente? Presidente mesmo, tipo, o Obama?". Ele, já rindo: "sim, esse mesmo". Eu, quase gritando de emoção: "Que máximo! E quando vai ser isso? (já pensando em assistir, claro...)". Ele, rindo mais ainda: "semana passada"]

Tá, fechei colchetes. Agora vocês já sabem que "inauguration" é "posse", não é inauguração de loja, e não vão passar vergonha na frente de ninguém.

Mas voltando.

Não sei se todas as posses de presidentes de universidade por aqui são tão descontraídas e divertidas como essa foi, mas desconfio seriamente de que isso tem muito a ver com a personalidade do presidente que assumiu. O Salovey está em Yale há mais de 30 anos. Ele fez doutorado aqui, é professor de Psicologia (yay!), foi Chefe de Departamento, Diretor da Graduação, Diretor da Pós-Graduação e também Provost. Ou seja, passou por todos os cargos possíveis e imagináveis, conhece praticamente todos os funcionários da universidade e é muito, mas muito querido por eles. E também pelos alunos.

Um psicólogo chamado Harry Harlow realizou um famoso experimento com macacos em meados dos anos 50. Ele colocou vários macaquinhos recém nascidos em uma jaula na qual havia duas mães artificiais: uma era feita de arame puro e a outra, embora também fosse feita de arame, era toda coberta por um tecido macio e aconchegante. O resultado foi que, não importava qual das duas oferecesse comida, os macaquinhos sempre preferiam a mãe feita de pano.

Tá, Airi, que legal, mas o que tem a ver essa informação descontextualizada aqui?

Pois bem. Nos corredores do Departamento de Psicologia, correm boatos de, que há alguns anos, todos os alunos chamavam a Famoseonérrimaíssima Profa. Sicrana, uma über bambambam que infelizmente já não dá mais aula aqui, como "mãe de arame". E adivinhem quem era a "mãe de pano"? Sim, o Salovey :)

Curiosidades à parte, a felicidade das pessoas tem sido contagiante nas últimas semanas e estou adorando poder testemunhar esse momento tão singular da história de Yale.

Para quem ainda tem alguma dúvida sobre o carisma do cara, coloquei aqui embaixo um vídeo dele convidando os alunos para o Baile da Posse. Acho que mesmo quem não entende inglês vai conseguir entender do que estou falando:




segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Yale University: Parte I

Yale é uma das universidades mais famosas e prestigiadas do mundo. Mesmo quando eu converso com norte-americanos e digo onde estou estudando, a reação normalmente é tipo: "bah!" (isso em gauchês, claro, em inglês seria algo como "wow"). Isso se deve a uma série de fatores, mas tanto a qualidade do ensino quanto da pesquisa aqui são inegáveis. Só nos últimos dias, por exemplo, dois professores da casa foram agraciados com o Prêmio Nobel (Medicina e Economia). Eu ri alto quando, ainda hoje, o presidente da universidade foi apresentar o ganhador do Nobel de Economia e brincou, dizendo algo como:

"Estou muito feliz porque, como vocês podem imaginar, não é todo dia que o presidente de Yale tem a honra de apresentar um ganhador do Prêmio Nobel... é toda segunda" (porque o anúncio do Nobel de Medicina foi na segunda passada).

Ao contrário do que se pode imaginar, Yale é uma universidade é relativamente pequena. Estudantes de graduação e pós-graduação não somam mais de 12 mil pessoas. Some-se a isso 4 mil professores e 9 mil funcionários e temos uma comunidade acadêmica composta por 25 mil integrantes. Apenas a título de comparação: a UFRGS tem 28 mil... alunos! E só na graduação.

Yale é uma instituição privada (e caríssima, por sinal), fundada em 1701 (sim, Porto Alegre ainda não tinha nascido). É a terceira universidade mais antiga dos Estados Unidos. A arquitetura por aqui lembra muito a de Harvard, Princeton e possivelmente a de outras universidades da Ivy League (vou falar mais sobre a Ivy League no futuro). São prédios lindos, mas há quem ache entediante porque "todos são iguais e se parecem com igrejas", nas palavras de uma conhecida minha. Eu não me incluo nessa categoria, que fique claro. Sempre fico passeando pelo campus meio abobada, admirando a paisagem.

Algumas fotos para cada um tirar suas próprias conclusões :)


Mas continuando...

Para fazer a graduação por aqui, a pessoa precisa ser muito boa e... ter muito dinheiro. Pra vocês terem uma ideia, quando eu passei pela imigração no aeroporto (quase sempre um momento tenso), o cara da segurança olhou meu formulário e disse, rindo: "Huun, Psicologia em Yale? Gente louca e rica". Acabou não sendo nada tenso :)

Mas chegando aqui eu entendi o que ele queria dizer, pelo menos na parte do "gente rica". Porque para ter no currículo um "graduado em Yale" é preciso desembolsar...

PREPARA!
...



...



... quase 65 mil doletas ANUAIS. Sim: 65 mil dólares POR ANO. 

Claro que é possível conseguir bolsa de estudos. Inclusive, parece que não são poucas as bolsas que eles concedem anualmente. Mas, né, imagino que a concorrência seja BEM grande. 

Façam aí as contas e vocês podem imaginar que a universidade tem muito dindim. Mas a universidade não vive apenas do dinheiro da galera da graduação. Outra fonte de renda MUITO importante são as vultuosas doações de generosos ex-alunos. Esses dias, recebi um e-mail anunciando que Yale tinha recebido a maior doação de sua história. E só o que eu tenho a dizer é: ainda bem que eu estava sentada quando li. 

Quer saber quanto foi? 

PREPARA DE NOVO!


...



...



Duzentos e cinquenta milhões de doletas.

Não, você não leu errado: 250 (dois, cinco, zero) MILHÕES de dólares.

É, amigo. Sabe aquela frase "não tá fácil pra ninguém", repetida exaustivamente por aí? 
Pois é... É mentira.