sábado, 8 de outubro de 2011

Vá de bici!*

Eu sempre gostei de andar de bicicleta. Aprendi a pedalar na praia, em São Lourenço do Sul, e lembro direitinho de um Natal, há muitos e muitos anos atrás, em que o Papai Noel me deu uma linda bicicleta laranja (a cor de Princeton, vê só). A minha alegria foi daquelas que só se pode explicar com a imagem de uma criança ganhando um presente de Natal. Fiquei radiante! Eu devia ter uns oito anos e aquela magrela foi uma excelente companheira durante um bocado de tempo.

Depois de alguns anos, talvez porque tudo fosse perto, talvez porque eu sempre tivesse carona, acabei deixando as bicicletas de lado: cresci demais para a laranja e nunca comprei outra. Quando me mudei para Porto Alegre, logo pensei em comprar uma magrela. Mas aí minha mãe disse: "é perigoso, depois não vai dizer que eu não avisei". E sabe como é, quando mãe diz "não vai dizer que eu não avisei", é bom não arriscar. Praga de mãe é imbatível.

Foi então que cheguei em Princeton e, no primeiro dia de minhas andanças, percorri quase 15 quilômetros caminhando e acabei cheia de bolhas nos pés. Como ia ficar pouco tempo e queria explorar bastante a universidade (lembrem que o campus é enorme), resolvi, quase 20 anos depois da bici laranja, que era chegada a hora de colocar minhas pernas sedentárias para pedalar novamente. 

Depois de ver o preço absurdo do aluguel de uma magrela (30 dólares por duas horas), decidi que comprar uma bici usada seria um bom investimento. Entrei em um site de classificados aqui de New Jersey (Craiglist), mas a maioria das bikes custava mais de 100 dólares, e eu não estava disposta a pagar tanto... Foi então que me deparei com uma simpática magrelinha azul sendo oferecida por 25 dólares. Aí tu deves estar pensando: "bah! só 25 dólares? essa bici deve ter algum problema!". Sim, só 25 dólares. E, sim, a bici tinha um problema. Quer dizer... Não era bem um problema, e sim uma característica: era uma bici de criança.

Mas enfim... Minhas opções eram: (a) comprar uma bike de adulto por 100 dólares para usar por apenas 3 semanas; (b) continuar caminhando 3 km pra ir e 3 km pra voltar da universidade todos os dias, sem contar as andanças pelo campus; ou (c) comprar uma bike de criança e me deslocar feliz por onde eu quisesse.

Óbvio que escolhi a opção c! 

A senhora que estava vendendo a bike morava há uns 8 km da minha casa. Quando cheguei lá, o banco estava na altura mínima, ideal para quem mede 1,30m mais ou menos, e eu tenho 1,65m. É evidente que a mulher não tinha a ferramenta necessária para levantar o banco. Assim, paguei os 25 pilas e voltei pedalando por longos 8km em uma rodovia movimentada de NJ, com os joelhos quase batendo no meu queixo a cada pedalada. Mas tudo bem, cheguei sã e salva e pelo menos fiz a alegria dos motoristas que passaram por mim, pois era impossível não rir com a cena.

Contratempos à parte, que baita escolha eu fiz! Comprar uma bicicleta fez toda a diferença. Minha liberdade para ir e vir foi elevada ao cubo. A cidade aqui é bem plana se comparada com Porto Alegre, o que facilita bastante a vida dos ciclistas, e há bicicletários em frente a todos os prédios da universidade (e olha que são muuuitos prédios). Além disso, os motoristas respeitam bastante quem está andando de bike e a maioria passa a pelo uns dois metros dos ciclistas, mesmo nas estradas. 

Estou adorando andar de bicicleta por aqui, e morrendo de vontade de continuar pedalando em Porto Alegre. Acho muito triste que seja uma aventura tão perigosa andar de bike pelas ruas da nossa capital. E não estou nem me referindo a malucos como aquele Ricardo Neis, que atropelou os ciclistas da Massa Crítica, mas sim à falta de ciclovias e à esmagadora maioria dos motoristas, que se nega a compartilhar a via com as bicis. 

Gostaria muito de poder ir à universidade ou ao Mercado Público de bicicleta. Como não sou muito adepta de aventuras radicais, no entanto, acho que vou ter que me contentar em pedalar em parques como o Marinha e a Redenção. Porque sabe como é, praga de mãe não tem data de validade. Melhor não arriscar.

* O título deste post é uma homenagem ao meu amigo Pedro Lunaris, colaborador do blog Vá de Bici! e ardoroso defensor das magrelas.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Recanto

Uma das coisas mais legais de explorar um lugar novo é que sempre tem um recanto escondido pronto para ser descoberto. Como quando eu achava que já conhecia toda a parte esportiva do campus e, no meio de uma caminhada, me deparei com nada menos do que 16 (dezesseis!) quadras de tênis. Inacreditável!

Mas uma das descobertas que mais me encantou foi um pequeno jardim, que de fora não chama muita atenção. Passei várias vezes apressada por esse lugar, assim como por tantos outros, sem nunca notar que ele tinha algo de especial...


E eis que em um nem tão belo dia, enquanto caminhava tranquilamente pelo campus, algo me fez parar, olhar para o lado e ter vontade de ler o que dizia a placa afixada na entrada formada pelos dois arbustos da foto aí acima.

E estava escrito assim:

"This garden is dedicated to the thirteen Princeton alumni who tragically lost their lives in the terrorist attacks of September 11, 2001"

(Em português: "Este jardim é dedicado aos treze alunos de Princeton que tragicamente perderam suas vidas nos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001")


No centro do jardim, treze arranjos de flores com bandeirinhas dos Estados Unidos estavam dispostos em círculo. Cada um deles estava sobre uma placa de concreto, na qual havia uma estrela. Dentro da estrela, o nome do aluno e seu ano de nascimento.


Fiquei comovida.


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Princeton Athletics

De tudo o que eu já vi nas minhas andanças por aqui, o que mais me impressionou foi a estrutura esportiva da universidade. A gente lê nos livros, vê nos filmes e seriados, mas ao vivo a coisa parece simplesmente surreal. Quem me conhece um pouquinho sabe que sou uma pessoa dos esportes. E, pra quem gosta de esportes, isso aqui é o paraíso. Sério. 


A minha cara ao ver o Princeton Stadium e o ginásio dos esportes aquáticos (DeNunzio Pool) deve ter sido impagável. Só lembro de ter dito em voz alta: "Por que, Senhor? Por que eu não tive isso na minha graduação?". E não pensem que eu sou uma pessoa ingrata ou algo do estilo... Eu continuo morrendo de amores pela UFRGS, sou muitíssimo feliz e honrada por ter me formado naqueles pagos e não trocaria Porto Alegre por Princeton. Mas não tenho como negar que, antes de conseguir ficar contente por estar vendo tudo aquilo, fiquei uma boa meia hora deprimida, pensando em como teria sido incrível ter tido acesso a toda essa estrututra nos meus anos de Psico. Eu até me imagino nadando na DeNunzio, jogando futebol no Roberts Stadium, vôlei e badminton no Dillon Gym, e até Lacrosse, aquela coisa engraçada que se joga com uma redinha de caçar borboletas e que aqui o povo parece gostar muito. Não sei quanto tempo sobraria pra estudar, mas como eu sempre deixei tudo para a véspera, acho que não teria muitos problemas com isso ;)


Aqui a pessoa tem que fazer muita força pra ser sedentária porque, bah!, não tem como não se encantar com algum desses ginásios, com a academia (gigantesca, por sinal, e pela qual os alunos não pagam nada) ou com um dos milhares de campos espalhados pelo campus (rsrs). Como diz a Jana, na maioria deles a grama é tão verdinha que dá até vontade de pastar! 


E daí a pessoa fica pensando... No Brasil se fala tanto na importância do esporte para a educação, mas a gente só vê o pessoal realmente arregaçar as mangas e fazer alguma coisa quando faltam dois meses para as Olimpíadas. E depois os Jogos acabam e tudo volta à pasmaceira normal. 
É claro que não tem como comparar Princeton com a UFRGS, por exemplo, porque pra início de conversa uma é particular e a outra pública, uma tem milhões de dólares pra investir em qualquer coisa que quiser, e a outra não. Mas acho que a questão principal não é tanto de infraestrutura ou de altos investimentos financeiros, mas mais de realmente apostar no potencial que o esporte tem para promover mudanças na sociedade. Sei que pode parecer meio piegas ou senso comum falar isso, mas eu acredito mesmo que teríamos muito a ganhar (e não estou falando de medalhas) com um maior incentivo à prática esportiva em todos os nossos níveis de ensino. 


To aqui com umas ideias... Talvez eu marque uma horinha pra tomar um chimas com o reitor qualquer dia desses ;)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vil metal

Aqui nos Esteites o povo gosta muito de usar moedas e eu acho isso o máximo! Até mesmo os centavinhos são importantes. Fico indignada quando não me dão o troco certo no Brasil: o cara tem que te dar 0,07, mas dá só 0,05. Se não quer usar moeda de um centavo, então não coloca preço quebrado, oras. Mas bom... Aqui isso não acontece. As moedas de um centavo (penny é o nome delas) circulam um monte. É bem diver!

O que não é diver é que, bem, eu tenho, por assim dizer, uma certa dificuldade para identificar as moedas daqui. Tá, certa dificuldade é apelido. Na verdade eu demoro horas pra descobrir qual moeda é qual.

O que ocorre é que no Brasil, por exemplo, o valor da moeda está estampado bem grande e em algarismos arábicos. Aqui, o valor das moedas é escrito por extenso, em uma letra minúscula que os meus olhos míopes não enxergam direito. Além de tudo, é muito fácil confundir a de 0,05 (nickel) com a de 0,10 (dime).

Em uma das primeiras vezes em que precisei pagar algo com moedas, não fazia a menor ideia do que era um dime (é assim que está escrito na moeda, como vocês podem ver aqui ao lado), e fiquei séculos procurando os tais 0,10. Estava na farmácia e fiquei tão nervosa com a mulher me olhando com cara de "entãããoooo..." que, enquanto ela colocava a minha compra na sacola, larguei um "I doesn't need this" (algo como "eu não precisar disso") pra dizer que não precisava do saquinho. Que horror.

Fiquei meio traumatizada e, saindo de lá, resolvi tomar um café pra relaxar. Chegando na Starbucks decidi usar meus neurônios e ser um pouco mais esperta. Vi o preço do meu café no painel ($3,20) e, com muita perícia, deixei as moedas separadinhas na mão pra não atrasar a fila inteira. Chegando no caixa, o carinha me diz: $3,48. Sim, eu tinha esquecido do imposto. Foi meio que: "aaaaaahhhh!". Sorte que ele foi simpático e não ficou me atucanando. Até ajudou apontando: "tem um dime ali". Como eu tenho um baita sotaque, acho que todo mundo entende que não sou daqui, mas também pode ser que pensem "tadinha, é mongolona...". Não sei bem.

Mas estou melhorando: já consigo identificar facilmente a de 0,25 (quarter dollar) e aos poucos estou começando a me entender com o dime e com o nickel. Em alguns dias vou estar craque!

Princeton University

Fundada em 1746, Princeton é a quarta universidade mais antiga dos Estados Unidos. Pelos seus jardins circulam em torno de 10 mil pessoas por dia, entre alunos, professores e funcionários. Se a universidade é pequena em número de pessoas (a UFRGS, por exemplo, é quatro vezes maior), o campus impressiona (e muito!) tanto pelo tamanho quanto pela beleza. São aproximadamente 180 prédios, construídos entre 1756 e 2010, espalhados por 2 milhões de metros quadrados. É uma pernada :)




Logo que cheguei aqui, fiquei meio embasbacada. Tudo bem, eu nunca tinha visitado uma universidade fora do Brasil. Mas parece que mesmo quem está acostumado a fazer tours pelas universidades do mundo fica impressionado. No primeiro dia, quando ainda estava brigando com as palavras pra conseguir me expressar em inglês (não que agora esteja muuuito melhor, mas enfim...), lembro de ter dito para a dona da casa onde estou morando: "não sei se mesmo em português eu conseguiria encontrar uma palavra que expressasse com exatidão o meu sentimento". E é bom por aí.





Princeton é estonteante.

Agora já me acostumei um pouco, mas no primeiro e no segundo dias eu andava com aquele jeito de turista perdida, olhando para todos os lados, com medo de perder o melhor ângulo. Era meio que: "é tudo tão bonito, pra onde eu olho agora?".





Bom, mas vamos aos detalhes práticos: Princeton é uma universidade privada e nada barata. Segundo informações não-oficiais, os alunos de graduação pagam algo como 40 mil dólares por ano para estudar aqui. Na pós-graduação, ninguém paga nada: depois de admitidos (aí o furo é mais embaixo), os alunos recebem bolsa pra estudar. Deve ser mais do que os nossos R$1200 por mês, mas não tenho certeza... rsrs

Além de toda essa bufunfa que os graduandos deixam nos cofres princetoneanos, a universidade também recebe vultuosas doações de seus ex-alunos. Muita gente famosa já estudou por aqui, incluindo em torno de 50 ganhadores do Prêmio Nobel.
Conclusão óbvia: estou mais perto de ganhar o Nobel da Paz! :)))

Ah, by the way... Lembram do filme Uma Mente Brilhante, que narra a história do matemático John Nash? Pois é, tudo aquilo foi aqui. Outro carinha mais ou menos que princetoneou durante uns bons 20 anos de sua vida foi o tal do Albert Einstein. E, mais recentemente, a universidade teve a honra de receber uma tal de Airi Sacco. Rááá!

Espero que tenham gostado do primeiro tour. Logo, logo conto um pouco mais! ;)

* Este mapa é muito legal: mostra o campus inteiro e, quando tu clicas em um dos prédios, aparece a fotinho dele do lado.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Próxima parada: Princeton

Eu amo as letras desde antes de ter qualquer noção sobre o seu significado.
Quando fui pra Angola tive a oportunidade de exercer um pouquinho o meu lado escritora e, apesar do receio inicial (de escrever um blog, não de ir pra lá), adorei a experiência. Depois do meu retorno, as novidades foram tantas que acabei deixando a contação de estórias um pouquinho (muito) de lado.
Pois bem... Dois anos se passaram e o Angolandanças está de volta, agora Princetoneando. Quando contei que iria voltar a contar minhas aventuras por aqui, várias pessoas perguntaram: "vai mudar o nome do blog?". Não, não vai. O que começou como piada acabou virando amor e eis que agora estou sempre Angolandando por aí.
Vem comigo! Como diz o Calvin, "let's go exploring!".