11 de setembro é uma data macabra no meu calendário: golpe
militar no Chile em 1973, derrubada das torres gêmeas em 2001 e, pasmem!,
lançamento da primeira revista Veja em 1968. Não tem como gostar desse
dia.
Pois eu estava um pouco na expectativa de como seria viver
um 11 de setembro nos Estados Unidos. Como seriam as homenagens? O que
noticiariam as capas dos jornais? As pessoas falariam sobre o assunto nas ruas?
O dia amanheceria mais triste, mais sério, mais raivoso?
E eis que o dia 11 raiou e, não fosse a internet, não fosse
a minha curiosidade ou mesmo o meu pesar, seria um dia como qualquer outro. Eu
tive aula de manhã, então não puder ligar a televisão para acompanhar as
solenidades que ocorreram no Marco Zero e na Casa Branca, e isso talvez tenha
feito diferença na minha percepção. Mas não se falou nada na universidade, não
ouvi ninguém comentando na rua, não vi nenhuma menção ao World Trade Center nas
capas dos jornais. Se eu estivesse em Nova York, talvez fosse diferente, não
sei. Só sei que isso me fez ficar pensando em todas as atrocidades que o ser
humano comete e em como isso afeta, ou não, as pessoas. Chegamos em um ponto de
barbárie que fez com que vidas/mortes virassem números frios. E falamos sobre
eles como se fossem banais:
“Carro bomba mata 3 e fere 17 em um ataque na Faixa de Gaza”
“Toda vez é isso, não tem notícia nova?”
“2997 pessoas morreram nos ataques do 11 de setembro”
“Bem feito, isso não é nada, mais de 200 mil morreram com as
bombas atômicas que eles jogaram em Hiroshima e Nagasaki”
Quem nunca ouviu (ou mesmo falou/pensou) uma frase como essas? Eu já.
No 11 de setembro de 2001 eu tinha 16 anos e estava em aula,
em Pelotas, no momento dos ataques. Havia uma televisão na sala e casualmente
alguém a ligou, provavelmente em um intervalo, enquanto as torres ardiam. Todos
ficaram vidrados, inclusive o professor (de História, por sorte). Ninguém sabia
o que estava acontecendo. Ninguém sabia que era um ataque terrorista. Ninguém
entendia o que aquilo significava. E, do alto da nossa adolescência ignorante e
inconsequente acostumada com os filmes da Sessão da Tarde, os comentários eram
os mesmos: todos queríamos ver as torres desabando.
É, eu sei. Que horror.
Mas a vida é assim, cada um tem seu tempo. E o meu tempo
demorou 10 anos.
Porque foi só 10 anos depois, na minha primeira vinda aos
Estados Unidos, que eu fui entender, entender mesmo, o que tudo aquilo
significou. Ou, se preferirem, foi só 10 anos depois que eu consegui elaborar,
internamente, um significado para aquilo tudo.
E eu fiz isso ao visitar o Marco Zero, o local onde as
torres ficavam.
Eu fui lá.
E o meu chão sumiu.
De repente, aqueles 2997 números frios foram substituídos por histórias, por tristeza, por saudade, por amor.
Porque a verdade é que não importa se morreram 2997 pessoas,
se foram 200 mil ou se foram duas. Não importa se elas moravam em um país que comete as maiores atrocidades ou se viviam em um santuário de paz.
O que importa, o que importa de verdade, é que cada uma delas era o mundo na vida de alguém. Provavelmente na vida de muitos alguéns. E, pra esses alguéns, as homenagens na televisão, as capas dos jornais e as conversas nas ruas são irrelevantes. Pra esses alguéns, todo dia é 11 de setembro.
E como tá cheio de 11 de setembro nesse nosso mundo cruel.
O que importa, o que importa de verdade, é que cada uma delas era o mundo na vida de alguém. Provavelmente na vida de muitos alguéns. E, pra esses alguéns, as homenagens na televisão, as capas dos jornais e as conversas nas ruas são irrelevantes. Pra esses alguéns, todo dia é 11 de setembro.
E como tá cheio de 11 de setembro nesse nosso mundo cruel.
Te odeio!!!!!!
ResponderExcluirNão bastou os textos sobre a Angola????
Vai começar tudo de novo?
Tu quer mesmo me ver chorando, refletindo?
:'(
Querida filha,bem me conheces,desfiz-me em lágrimas, palmilhando contigo e sorvendo de todas as angústias que te conduziram até aos momentos de agora.
ResponderExcluirEsse texto diz muito sobre o teu caráter humanitário e se faz revelador de cativante sensibilidade. Não se mede o percurso pelo seu tamanho, mas pela intensidade que lhe dedicamos. Beijos.