domingo, 29 de novembro de 2009

Rubro-Negro

Torci para o Tricolor Paulista com todas as minhas forças, mas ele não fez a sua parte.
Só me resta agora voltar a torcer para o time que me tem desde pequenina: o Flamengo, claro! :)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Papai Noel

Ontem estava passeando no shopping e encontrei o Papai Noel! E sabe o quê? Ele é negro! :D
Sempre me mostraram fotos e desenhos do velhinho como sendo beeem branquinho. Mas, agora que o conheci, sei que ele é negro. Uma simpatia só o bom velhinho! Na próxima vez vou levar a máquina. Quem sabe não dou sorte e o encontro novamente?! ;)

Do que também nos aproxima

Ontem me dei férias e fui ao cinema.

Os cinemas daqui geralmente ficam meio vazios nos dias de semana. Um dia desses, por exemplo, fui assistir Um Conto de Natal (em 3D, por sinal, que aqui também temos cinemas modernos :D) e estávamos na sala eu e mais umas cinco crianças.

Aqui em Angola a maioria dos filmes estréia antes do que no Brasil. Pelo que pude entender, o país segue o calendário cinematográfico de Portugal. Por algum motivo obscuro, no entanto, Lua Nova entrou em cartaz apenas ontem, com uma semana de atraso em relação ao Brasil.

Pausa para quem não sabe do que estou falando.

O filme Lua Nova faz parte da saga Crepúsculo (Twilight), baseada em quatro livros de Stephenie Meyer: Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer. Os livros fizeram muito sucesso e a adaptação para o cinema tem causado furor mundial. Guardadas as devidas proporções (e não façam comparações para não me tirar do sério), é um fenômeno parecido com o de Harry Potter. O ator principal de Crepúsculo, Robert Pattinson, chegou a ser eleito o homem mais sexy do mundo um dia desses, mesmo sendo feio e não sabendo atuar. Mas enfim...

Retomada.

Eu não estou no Brasil, mas acompanhei via internet o fuzuê que causou a visita dos atores do filme ao país uns dias atrás. Confesso, então, que estava curiosa para saber como seria o lançamento do filme por aqui. Imaginava, na minha total ignorância, que o cinema teria meia dúzia de gatos pingados e que eu seria a única vivente a ter lido os livros.

Ha Ha Ha

O cinema estava lotado e as meninas gritavam cada vez que um lobisomem ou um vampiro (sim, o filme é sobre isso) tirava a blusa. Isso sem falar em uma rapariga atrás de mim que ficava suspirando e repetindo as falas dos personagens. A menina do lado dela, pra completar, narrava o filme... Uma hora o vilão estava ameaçando a mocinha e essa guria largou a pérola, segundos antes de o cara ser morto: "hihihihi isso é porque não sabes o que vai te acontecer agora". Não tive como não rir!

Me senti em pleno Unibanco Arteplex, em Porto Alegre, e, mais uma vez, fiquei pasma com o meu poder de subestimar o sítio em que me encontro. Três meses e meio depois, em alguns momentos ainda esqueço que, no Brasil ou em África, não somos assim tão diferentes.

Sobre o filme... Adorei! Ao contrário do que aconteceu com Crepúsculo, a história de Lua Nova está muito bem contada. Os efeitos especiais são ótimos, assim como a trilha sonora! E, pra completar, o Pattinson aparece pouquíssimo (talvez esse seja um dos motivos para o filme ser bom, vai saber...). Recomendo!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Fidel

Nunca falei pra vocês sobre o Fidel. Ele é motorista da empresa e uma das pessoas mais queridas pra mim aqui em Angola. Um dia desses estava a voltare do mercado com ele, quando ficamos (pra variar) parados em um enorme engarrafamento. O Fidel é um cara super inteligente. Já foi motorista de candonga (as vans de transporte coletivo daqui), sabe falar inglês, conhece tudo sobre música brasileira e angolana e tem planos de cursar Direito. Teve que parar de estudar porque a esposa ficou grávida, mas pretende voltar em breve. Isso já faz dois anos, mas eu torço muito para que ele de fato coloque os planos em prática no ano que vem.

Enfim... A gente sempre fica a batere papo no carro e, nesse dia, ele virou pra mim e perguntou:

"Professora [os motoristas da empresa chamam todo mundo de professor], por que será que nós angolanos somos tão tímidos?"
"Como assim, Fidel?"
"É, vocês brasileiros são tão simpáticos e expansivos, e nós somos tão tímidos. Por exemplo, se chega uma repórter da TV Zimbo aqui e me pergunta: 'E então, o que o senhor acha do trânsito aqui na Rocha Pinto?', eu não ia saber o que dizer"
"Ah, mas isso é normal... E não acho vocês tão tímidos assim"
"Mas a senhora já tentou fazer uma pergunta pra um angolano? Ele não responde"
"É, realmente tive alguns problemas na coleta de dados. Às vezes fazia uma pergunta e a pessoa ficava calada, olhando pros lados ou pra baixo"
"Pois é, aqui as pessoas fazem isso"
"É, mas se fores prestar atenção, vocês são super animados e expansivos quando estão entre amigos. Estão sempre a dançare, a rire, a brincare..." (hehehehe)
"É verdade..."
"Então... Na verdade eu acho os angolanos muito parecidos com os brasileiros, principalmente com os baianos. É o mesmo estilo"
"É, todo mundo diz isso, acho que é parecido mesmo"
"Pois é, tens que ver que vocês passaram décadas em guerra e que não tinham liberdade nenhuma pra se expressar. Faz só sete anos que isso tudo acabou e não é de uma hora pra outra que as coisas mudam. As pessoas não estão acostumadas a responderem perguntas e a serem ouvidas de verdade..."
"É mesmo, né professora?" (e ele abre um sorrisão)
"É, é mesmo, Fidel"

Não sei explicar por que, mas essa conversa me marcou tanto que fico com os olhos marejados de lembrar. A preocupação e a alegria dele foram tão genuínas... Nós fomos conversando e construindo a linha de pensamento juntos. Foi tão bom!
Quis compartilhar :)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Passatempo

Enquanto continuo correndo endoidecida, deixo aqui uma das minhas fotos preferidas pra vocês. A "casa de banho" da escola. Modéstia completamente à parte, a fotógrafa foi brilhante nessa! :D


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Globo Internacional

Quando estou em Porto Alegre, praticamente não assisto a nenhum canal aberto na televisão. Raramente sei qual é a programação da Globo, que só assisto no domingo de manhã (Esporte Espetacular!). Novela, então, faz muito tempo que não acompanho. Nada contra, simplesmente prefiro assistir outros programas. Nem entro naquela discussão sobre novela ser lixo televisivo porque seria muita hipocrisia: as coisas que eu gosto de ver na NET definitivamente não estão em um nível muito acima dos folhetins globais!

Aqui em Angola, no entanto, a situação mudou um pouco de figura. Tem gente que toma Guaraná pra se sentir mais perto de casa. Pois eu assisto Globo Internacional! Direto. Todos os dias. Acho que foi a forma que encontrei para me manter atualizada com o que acontece na minha terra. Nada racional, claro. Até porque a internet é muito mais efetiva no que diz respeito à informação propriamente dita. É uma coisa bem emocional mesmo. Tu chegas em casa, ligas a TV e assistes Globo. Estás no Brasil, certo? Errado, mas que mal tem em tentar dar uma enganadinha no cérebro? :D

Enquanto estávamos viajando pelas Províncias, eu assistia TODAS as novelas. Até, pasmem!, Malhação. Explico: nos hotéis eu sempre deixada a TV do quarto ligada para fazer barulho. Aí tu começas a ouvir que o fulaninho tá apaixonada pela beltraninha, mas que a sicrana malvada aprontou uma sacanagem para separar os dois, e começas a te envolver na história, mesmo que ela seja igual a todas as outras. Enfim. Voltei pra Luanda sabendo tudo que estava acontecendo no mundo noveleiro global.

Ah! Deixa eu explicar como funciona a programação daqui, que não é igual a do Brasil. A Globo Internacional mescla programas da Globo, do GNT, do Multishow e do Sportv. Também reprisam alguns programas antigos. Fica bem interessante até. As novelas são transmitidas com um dia de atraso. Ou seja, hoje eu assisto o capítulo que passou aí ontem. Os jornais passam no mesmo dia, mas com algumas horas de atraso, já descontado o fuso horário. O Bom dia Brasil, por exemplo, eu assisto na hora do almoço. Jornal Nacional eu nunca assisti porque é de madrugada. O Fantástico passa segunda de noite. As novelas, meu novo xodó, são condensadas em um bloco gigante. Ou seja, passa Malhação, Cama de Gato, Caras e Bocas e Viver a Vida. Uma depois da outra. Bem bom! :D

De vez em quando, tem algum programa ao vivo. No domingo de noite, por exemplo, é transmitido algum jogo do Brasileirão. E é evidente que eu assisto sempre, não importa quem jogue :)
No dia em que o Rio foi eleito sede das Olimpíadas, toda hora entravam flashes ao vivo na programação. E a retardada aqui, na TPM, chorou vendo o filmezinho de apresentação da cidade e ainda ficou toda ansiosa esperando o anúncio. Sério, as pessoas ficam estranhas quando estão longe de casa! Pra vocês terem ideia de como a coisa é patética, eu me esgoelo cantando a musiquinha dos 10 anos da Globo Internacional quando a propaganda passa na TV: "juntos numa só viagem, no canal dessa nação, espelho da nossa imagem, o que nos uuuune é a meeeesma emoçããão". Só falta dar uma sambadinha. Mas aí também já seria demais...


Três meses!

Hoje completo exatos três meses em Angola! Parece pouco, mas é metade da vida da minha afilhada linda e gordinha, de quem estou morrendo de saudades :)

Já aprendi muitas coisas nas minhas angolandanças e tenho certeza de que ainda vou aprender outras mais. Nesse exato momento, estou exercitando os dons da tolerância e da paciência. Como nasci com uma certa defasagem nesses quesitos, imagino que no futuro essa experiência será bastante proveitosa. Por enquanto está sendo apenas dolorida! :P
Trabalhar em equipe é algo fantástico, mas requer um jogo de cintura danado quando algum dos membros do time destoa do resto (não, nesse caso não sou eu quem está destoando, então guarda as pedras, querido cunhado :D).

É em momentos como esse que eu lembro do meu querido Grêmio-só-ganha-em-casa e penso em como tudo seria melhor se o Rochemback não entrasse em campo. Mas é aquela coisa: ele está lá. Então, como o técnico insiste em não mandá-lo para a reserva, o que os outros jogadores precisam fazer é jogar bem apesar dele e tentar não deixá-lo atrapalhar as jogadas.

Só pra constar: nesse caso eu seria o Victor, claro.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Mart'nália

Acabei de ler na Zero Hora que amanhã vai ter show da Mart'nália em Porto Alegre. Ela vai lançar o cd Madrugada que, graças à Créa, é praticamente a minha trilha sonora aqui em Angola. Excelente programa para quinta-feira à noite, pela barbadinha de 40 pilas. Eu, se estivesse aí, não perderia!

De lambuja, deixo aqui a minha música preferida (por razões óbvias) pra vocês. Nessa canção, Mart'nália literalmente canta Angola. Ela fala de quase todas as Províncias do país e de coisas típicas da terra, como o fundji, que é como se fosse uma polenta cozida, só que branca e sem gosto, que os angolanos adoram! Hahahahaha :D
Mas falando sério... Tenho um carinho muito grande por essa música e as outras são muito boas também. Recomendo! :)

Angola
(Arthur Maia, Mart'nália, Maré e Paulo Flores)

Êh, Angola, muxima êh
Êh, Luanda, Mussulo
De onde vem meu povo
terra do homem novo
minha nação Banto Zumbi
Cheiro de jinsaba, nos sons do meu perfume
com semba, samba, soul charme
Só vivo de madrugada
Sou filho da batucada, okê!
e isso é questão de prazer
Minha festa é a Kizomba
"Em volta da fogueira"
Lúmbua, mukolo, kalulu,
Fundji e mbiji
Sou filha da Angola
Sou neta da Bahia
Sou cria da poesia que vem das ondas do mar
O meu canto é de Oxòssi
Por isso é que eu sou forte
Mutalambô, oxú-pá de Massangá, Lembá-Dilê
Obá de Ngana Zambi ê
Kiandá ossá, crioula
que vem de Ngana Zambi ê
Êh, Benguela, MuKumbê
Êh, Lubango, Katendê
Êh, Cabinda, lelé bamiô
Êh Bengo, ereum malé
Êh Bié, oxé
Êh Cuango Cubango, Lembá Dilê
Êh Cuanza Norte, afoxê Loni
Êh Cuanza Sul, gexá morô
Êh Cunene, tatá ê mê
Êh Huambo, okê
Êh Huíla, aganju
Lunda Norte, é alocu mabó
Lunda Sul,
Olorum idá quilofé
Luanda

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Encontros e despedidas

Meu dia hoje foi um pouco diferente do habitual.
Acordei cedo, fui para o escritório, larguei as coisas na sala e fui até a sala de reuniões esquentar água. Depois voltei pra minha mesa, li as notícias do dia e comecei a preparar o mate.
Até aí tudo igual a todos os dias das últimas semanas. Parecia até a música do Chico: "todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode as seis horas da manhã...".

Foi então que aconteceu. Bateu uma tristezinha. A sala estava silenciosa como nunca. Tomei o primeiro chimas, olhei pra mesa vazia à minha frente e lembrei que não tinha mais para quem passar o segundo...

Cléa, minha parceira de chimarrão, de pesquisa, de viagem, de estresse, de músicas depressivas, de baralho, de risadas e de cervejas, foi embora. Ela veio pra Angola um mês antes de eu chegar e foi para o Brasil um mês e pouco antes de eu voltar. Retorno merecido, depois de muito trabalho. Mas não é por isso que eu fico menos triste.

Engraçado isso das relações humanas... Às vezes a gente encontra as pessoas e, sem nem reparar, dá uma brechinha para que elas entrem. Algumas passam reto e não são sequer notadas. Outras se aproveitam desse espacinho e vão se embrenhando. Quando te dás conta, não consegues mais tirar a criatura lá de dentro.
Que bom! Porque se as despedidas deixam uma dorzinha ardida lá no fundo, os encontros fazem tudo valer a pena.

E eu deixo o Galeano com vocês de novo. Em tua homenagem, Créa! :)

Un hombre del pueblo de Neguá, en la costa de Colombia, pudo subir al cielo.
A la vuelta, contó. Dijo que había contemplado, desde allá arriba, la vida humana. Y dijo que somos un mar de fueguitos.
El mundo es eso - reveló - Un montón de gente, un mar de fueguitos.
Cada persona brilla con la luz propia entre todas las demás. No hay dos fuegos iguales. Hay gente de fuegos grandes y fuegos chicos y fuegos de todos los colores. Hay gente de fuego sereno, que ni se entera del vento, y gente de fuego loco, que llena el aire de chispas. Algunos fuegos, fuegos bobos, no alumbran ni queman; pero otros arden la vida con tantas ganas que no se puede mirarlos sin parpadear, y quien se acerca, se enciende.



Obrigada por tudo, Créa! Principalmente por "arder la vida con tantas ganas".
Já estás a fazere falta, neguinha!

sábado, 7 de novembro de 2009

Da série "diálogos curiosos" II

Uma das pesquisadoras do projeto chega de viagem. Ao desembarcar em Luanda e passar na imigração, a funcionária da polícia federal a interpela:

"Chegou do Brasil?"
"Sim"
"E não trouxe um presentinho pra mim?"
"Como?"
"É, não trouxe um presente pra me dar?"
"Não"
"Nenhum presentinho?"
"Não"
(a funcionária olha para a sacola do Duty Free na mão da viajante)
"Nem um perfuminho?"
"Não"
"É sempre assim... As pessoas sempre dizem que vão trazer na próxima vez e nunca trazem"

E, de mau humor depois do diálogo surreal, a funcionária libera a passageira.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Nota da redação

O blog anda um pouco desatualizado porque estamos em uma correria danada por aqui. Precisamos entregar a primeira versão do relatório na segunda-feira! Já experimentei inclusive Red Bull (que aqui se vende até na rua, entre os carros, e que custa o mesmo que uma garrafinha de água) pra ver se ajuda! Hehehehe Assim que der conto algumas novidades e causos, ok? See you!

domingo, 1 de novembro de 2009

Para refletir...

"Será que a foto acima [a do post 'antes e depois'] não existe apenas pela apatia e pelo contentamento simples de um povo sem vontade de mudar?"
Essa foi a pergunta que motivou os escritos abaixo. O objetivo não é mudar o pensamento de ninguém, mas dialogar e contribuir de alguma forma para uma reflexão coletiva. Enjoy!

Em 1975, após quase cinco séculos de colonização e 15 anos de guerra, Angola conquistou a sua independência. No mesmo ano começou a guerra civil, que terminou apenas em 2002, ou seja, há sete anos. Quando falamos nos angolanos, portanto, falamos de um povo que está "livre" há menos de uma década. Falar em apatia e em falta de vontade de mudar me parece um tanto quanto precipitado se levarmos esse contexto em consideração.

O contexto. Ah, o contexto.

Aqui em Angola eu vejo muitas coisas que me chocam. E vejo as pessoas que vivem aqui encararem algumas dessas coisas que me deixam boquiaberta como situações normais e rotineiras. Já contei em outro post que as crianças daqui sofrem terríveis violências quando estão na escola e que, apesar disso, elas continuam indo. Em uma das escolas em que fomos, perguntamos a um grupo de crianças se elas preferem os professores que batem ou os que não batem. A resposta: os que batem porque, assim, elas aprendem.

Já tive altos debates, quase embates, por causa desse assunto com uma das pessoas que trabalha na empresa. Ela insiste em dizer que os professores daqui são pessoas malvadas e cruéis, que batem nas crianças para saciar os seus instintos sádicos. Eu, em contrapartida, bato na tecla de que eles ensinam como sabem, como aprenderam. Nem ela me convence nem eu a convenço.

Pois bem. Eu nasci e fui criada no Brasil. Estudei em ótimas escolas e em uma excelente universidade. Tenho acesso à internet desde o tempo em que se batia papo no mIRC. Já li um monte de livros, desde porcarias medonhas até clássicos consagrados. Tenho NET em casa, mesmo que só assista Sportv. Não viajei muito, mas conheço um bocado de lugares, pessoal ou virtualmente.

Essa é uma parte de quem eu sou e a minha visão de mundo está inevitavelmente ligada a essas e outras questões. Eu sei que as pessoas têm o direito à liberdade e considero importante lutar por ela. Eu sei que existem métodos de ensino mais eficazes do que a palmatória. Eu acredito que as crianças devam ser escutadas, respeitadas e protegidas. Eu tenho vontade e creio que é possível mudar para melhor não só a educação de Angola, mas a realidade do povo angolano como um todo.

Eu penso tudo isso e penso porque posso pensar. Penso porque conheço uma realidade diferente dessa aqui. Penso porque sei que outras nações, inclusive a minha, já passaram por momentos semelhantes a esse. Penso porque tenho acesso a uma série de informações e vivências que me permitem acreditar nisso.

Pausa.

Fala de uma professora participante da pesquisa: "as crianças não têm acesso a computador, a televisão... é difícil pra elas entenderem coisas sobre um mundo com o qual não têm contato".

Retomada.

Como acusar um povo de não ter vontade de mudar se talvez esse povo nem sequer saiba que existem outras possibilidades? As crianças não gostam de apanhar, e o dizem, mas acreditam que esse é o único meio de aprender. Será que o povo sabe que existe outro meio de existir, outra forma de viver?

O contexto. Ah, o contexto.

Quantas e quantas vezes me peguei julgando o que ocorre aqui unicamente a partir da minha visão limitada de mundo? Inúmeras!
E não é contradição com o que eu disse alguns parágrafos acima: visão limitada, sim. Porque tudo aquilo que eu citei como sendo parte da minha formação também me limita. Toda visão de mundo é limitada. Na medida em que eu olho o mundo a partir de um determinado ponto, deixo de enxergá-lo por outro. Como dizer, então, que a minha visão é melhor ou mais correta do que a de outra pessoa? Não seria menos temerário dizer que ela é simplesmente diferente?

Talvez sim, talvez não, mas acho que é algo a se pensar...

Sei que em um ponto concordo contigo, querido cunhado: "o difícil é lutar por reais mudanças, lutar por educação e progresso, por partilha e justiça". É difícil mesmo. Difícil, não impossível.

E, para encerrar esse post meio capenga com chave de ouro puro, deixo aqui um pequeno texto do meu querido Eduardo Galeano, que parece fazer a cada dia mais sentido.

En algún lugar del tiempo, mas allá del tiempo, el mundo era gris. Gracias a los indios ishir, que robaron los colores a los dioses, ahora el mundo resplandece; y los colores del mundo arden en los ojos que los miran.
Tício Escobar acompaño a un equipo de la televisión, que viajó al Chaco, desde muy lejos, para filmar escenas de la vida cotidiana de los ishir.
Una niña indígena perseguía al director del equipo, silenciosa sombra pegada a su cuerpo, y lo miraba fijo a la cara, de muy cerca, como queriendo meterse en sus raros ojos azules.
El director recurrió a los buenos ofícios de Tício, que conocía a la niña y entendía su lengua. Ella confessó:
- Yo quiero saber de que color ve usted las cosas.
- Del mismo que tú - sonrió el director.
- Y cómo sabe usted de qué color veo yo las cosas?