Eu sempre gostei de andar de bicicleta. Aprendi a pedalar na praia, em São Lourenço do Sul, e lembro direitinho de um Natal, há muitos e muitos anos atrás, em que o Papai Noel me deu uma linda bicicleta laranja (a cor de Princeton, vê só). A minha alegria foi daquelas que só se pode explicar com a imagem de uma criança ganhando um presente de Natal. Fiquei radiante! Eu devia ter uns oito anos e aquela magrela foi uma excelente companheira durante um bocado de tempo.
Depois de alguns anos, talvez porque tudo fosse perto, talvez porque eu sempre tivesse carona, acabei deixando as bicicletas de lado: cresci demais para a laranja e nunca comprei outra. Quando me mudei para Porto Alegre, logo pensei em comprar uma magrela. Mas aí minha mãe disse: "é perigoso, depois não vai dizer que eu não avisei". E sabe como é, quando mãe diz "não vai dizer que eu não avisei", é bom não arriscar. Praga de mãe é imbatível.
Foi então que cheguei em Princeton e, no primeiro dia de minhas andanças, percorri quase 15 quilômetros caminhando e acabei cheia de bolhas nos pés. Como ia ficar pouco tempo e queria explorar bastante a universidade (lembrem que o campus é enorme), resolvi, quase 20 anos depois da bici laranja, que era chegada a hora de colocar minhas pernas sedentárias para pedalar novamente.
Depois de ver o preço absurdo do aluguel de uma magrela (30 dólares por duas horas), decidi que comprar uma bici usada seria um bom investimento. Entrei em um site de classificados aqui de New Jersey (Craiglist), mas a maioria das bikes custava mais de 100 dólares, e eu não estava disposta a pagar tanto... Foi então que me deparei com uma simpática magrelinha azul sendo oferecida por 25 dólares. Aí tu deves estar pensando: "bah! só 25 dólares? essa bici deve ter algum problema!". Sim, só 25 dólares. E, sim, a bici tinha um problema. Quer dizer... Não era bem um problema, e sim uma característica: era uma bici de criança.
Mas enfim... Minhas opções eram: (a) comprar uma bike de adulto por 100 dólares para usar por apenas 3 semanas; (b) continuar caminhando 3 km pra ir e 3 km pra voltar da universidade todos os dias, sem contar as andanças pelo campus; ou (c) comprar uma bike de criança e me deslocar feliz por onde eu quisesse.
Óbvio que escolhi a opção c!
A senhora que estava vendendo a bike morava há uns 8 km da minha casa. Quando cheguei lá, o banco estava na altura mínima, ideal para quem mede 1,30m mais ou menos, e eu tenho 1,65m. É evidente que a mulher não tinha a ferramenta necessária para levantar o banco. Assim, paguei os 25 pilas e voltei pedalando por longos 8km em uma rodovia movimentada de NJ, com os joelhos quase batendo no meu queixo a cada pedalada. Mas tudo bem, cheguei sã e salva e pelo menos fiz a alegria dos motoristas que passaram por mim, pois era impossível não rir com a cena.
Contratempos à parte, que baita escolha eu fiz! Comprar uma bicicleta fez toda a diferença. Minha liberdade para ir e vir foi elevada ao cubo. A cidade aqui é bem plana se comparada com Porto Alegre, o que facilita bastante a vida dos ciclistas, e há bicicletários em frente a todos os prédios da universidade (e olha que são muuuitos prédios). Além disso, os motoristas respeitam bastante quem está andando de bike e a maioria passa a pelo uns dois metros dos ciclistas, mesmo nas estradas.
Estou adorando andar de bicicleta por aqui, e morrendo de vontade de continuar pedalando em Porto Alegre. Acho muito triste que seja uma aventura tão perigosa andar de bike pelas ruas da nossa capital. E não estou nem me referindo a malucos como aquele Ricardo Neis, que atropelou os ciclistas da Massa Crítica, mas sim à falta de ciclovias e à esmagadora maioria dos motoristas, que se nega a compartilhar a via com as bicis.
Gostaria muito de poder ir à universidade ou ao Mercado Público de bicicleta. Como não sou muito adepta de aventuras radicais, no entanto, acho que vou ter que me contentar em pedalar em parques como o Marinha e a Redenção. Porque sabe como é, praga de mãe não tem data de validade. Melhor não arriscar.
* O título deste post é uma homenagem ao meu amigo Pedro Lunaris, colaborador do blog Vá de Bici! e ardoroso defensor das magrelas.
Sei como é a sensação! Muito bom poder usar a bicicleta para fazer tudo. É uma mão na roda! E também adoraria poder ir e vir todos os dias do trabalho, mas não confio nem um pouquinho nas nossas ruas. Acho que andaria na calçada e seria xingada pelos pedestres!!! :P hehehehe. Mas vai que uma hora melhora! ;)
ResponderExcluirEu marquei como +1, mas não sie o que significa.. Achei que era a lista de comentários... hehehe Mas acho que não é nada ruim, né? :P
ResponderExcluirAh, andar de bici é muito bom!! Era o que mais sentia falta quando não tava aqui na Finlândia. Aqui eu me sinto bem mais segura, tem pouco trânsito e nas avenidas sempre tem ciclovia. É bom pro meio ambiente, pra saúde e pro bolso! :)
Mas sabe que ouvi dizer que até ano que vem começam a fazer ciclovias em POA? Espero que saia mesmo do papel, porque aí tua mãe poderia retirar a praga e tu ia poder ir pra cima e pra baixo de bici! :)
Aproveita aí os últimos dias!!
Beijãoo
Também tenho um entrevero adolecente com a bicicleta, não minha mas de meu pai,uma bicicleta operária,com campainha,magérrima,alta pra caramba. Minhas pernas eram longas, dois caniços, mas não o bastante para o equilíbrio.Um dia ele me emprestou e lá fui pra praça Julio de Castilhos, a da Avenida,exibir meu orgulho. Durou pouco, a curva depois da reta me colocou frente a frente com robusto tronco e as opções sumiram.A roda virou um ovo.Gostei muito de tua narrativa. "Depois não diz que não avisei" não é praga é tão somente o sublinhar, o enfatizar, o chamar atenção à uma preocupação que se faz lancinante à pessoa que assim se expressa. Quando Elisiane ganhou uma motoreca e encetou sua primeira saída, discretamente acompanhei de carro,para acalmar minha incontida ansiedade. Coisas de pai, coisas de mãe, quando muito se ama muito se sofre.Beijos
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