sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Edição extraordinária: Sobre o amor!

Essa postagem não tem nada a ver com estudos, Yale ou New Haven. Nada disso...
Mas não vão embora, o texto tem a ver com angolandanças. Porque angolandar, afinal das contas, é viver. E viver é amar (ai, como sou poética! rsrs).

Na verdade, gostaria de compartilhar com vocês um comentário que fiz em um outro blog. Era pra ser algo super rapidinho, só uma resposta para uma pessoa, mas no fim ficou tão grande e falou tanto sobre o que penso e sinto, que achei que seria legal colocar aqui também.

Então, antes, deixem eu fazer uma contextualização:

No início do mês, duas grandes amigas minhas se casaram. Sim, amigas. Duas. E não, não foi um casamento duplo... Elas casaram uma com a outra mesmo.

Para minha dor (ainda não me recuperei completamente do baque), não pude estar presente na festa. Porque, né, eu to aqui e elas tão aí (ou lá, dependendo de onde vocês estiverem...).

Por outro lado, para minha ENORME felicidade, parece ter sido uma das cerimônias mais lindas que já se viu. Não teve pompa, não teve superprodução, longe disso, mas teve MUITO amor. E como foi tão lindo, e tão emocionante, e tão sensacional, e tão... incomum (sim, ainda é incomum duas mulheres se casarem em Porto Alegre), virou notícia. A Lu, umas das noivas, publicou um relato lindo nesse blog aqui.

Tudo muito bom, tudo muito bem, fui ler os comentários da postagem sobre o casamento.

Abre colchetes:
[Eu ADORO ler comentários de blogs. Adoro mesmo. Leio até quando são aquelas grosserias que as pessoas gostam de publicar anônimas e que nunca teriam a coragem de assumir na vida real. Acho que os comentários de blog dizem muito sobre a sociedade. Então eu ADORO ler. Só gosto ainda mais quando é aqui, no angolandanças, então deixem de ser preguiçosos e manifestem-se na caixinha! :D]
Fecha colchetes.

Pois bem, no meio dos comentários (que certamente estão sendo moderados, porque não aparece nenhuma grosseria) encontrei um que me deixou muito tocada. Foi o comentário da Aline Maria. Eu não faço a menor ideia de quem é a Aline Maria, mas ela escreveu assim:

  • aline maria diz:17 de outubro de 2013
    juro que me esforço para compreender, sem conseguir… mas não estou julgando, pelo contrário… a culpa é minha mesmo, está fora da minha capacidade de compreensão… para mim, falta algo, falta a figura masculina, o cara grande e mais forte que protege, enquanto que nós mulheres encantamos com doçura e beleza… falta o oposto justamente, se um estar preocupado com o smoking enquanto que a moça esta preocupada em ser a mais bela mulher da festa… desculpa, mais uma vez… quero deixar claro que sou a favor de que pessoas do mesmo sexo tem o direito de se casarem, de adotar e de ter filhos…como qualquer um de nós… chega a ser cruel alguem tipo um feliciano idiota qualquer, querer proibir ou dizer que isso é doença… mas eu sinceramente nao consigo me ver dentro de uma relação aonde nao exista o macho… me perdoa a sinceridade,…. mas esta nao seria eu MESMO. a gente faz de tudo para ficar lindas e sexyes, e elas usam jeans no casamento? com all satar??? e cabelos curtos??? olha… eu nao entendo mesmo… qual é o sentimento, eu nao entendo, me perdoa…. que sejam felizes, e que as crianças possam ser adotadas, tenho certeza que sera um lar magnifico, mas eu…… nao entendo. abraços e felicidades…
Vejam que a Aline Maria entrou em um blog sobre casamento, provavelmente esperando ler sobre as bodas de algum casal tradicional (homem + mulher), e deu de cara com a notícia sobre o casório da Lu e da Suzi. Deve ter sido um choque. Imagino a Aline Maria olhando para a tela do computador, se questionando se estava entendendo certo o que significava aquelas duas mulheres de mãos dadas. Mas mesmo assim a Aline Maria se deu ao trabalho de ler. E leu com muita atenção porque mencionou vários detalhes, como a roupa das gurias, o corte de cabelo, e o desejo delas de adotar uma criança. A Aline Maria não só leu, como sentiu o desejo de compartilhar o que estava sentindo. E não só compartilhou, como, em um texto cheio de angustiados três pontinhos, desabafou sobre a sua dificuldade em entender aquela relação. Mas, mais do que tudo (ou talvez seja melhor dizer, MESMO com tudo), a Aline Maria fez questão de pedir perdão (!) e de dizer que deseja que as gurias sejam bem sucedidas na adoção e que sejam felizes.

Não sei sobre vocês, mas eu fiquei muito comovida com o comentário da Aline Maria.
Talvez por estar acostumada a ler os comentários de blogs e notícias. Talvez por saber que tem MUITA gente que, assim como a Aline Maria, não consegue entender. E talvez por saber, também, que a maioria dessas pessoas tem medo do que não entende e que, acuada pelo seu medo, reage agredindo. São raros, raríssimos, os que conseguem ter a nobreza que a Aline Maria teve para admitir que não entende e para, mesmo assim, conseguir desejar felicidade.

Vocês podem ler a resposta que a Suca deu para a Aline Maria lá no blog. Foi linda!
Eu não resisti e decidi responder também porque achei que a Aline Maria merecia toda a atenção do mundo. Ela parece ser uma pessoa de bom coração. E, nesse mundo doido em que a gente vive, pessoas de bom coração precisam ser bem tratadas.

Abaixo, a minha resposta para a Aline Maria.


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O comentário da Aline Maria me encantou muito e eu espero de coração que tu ainda estejas lendo o que as pessoas estão escrevendo aqui, Aline, principalmente o que respondeu a Suzi.

Queria te dizer, Aline, que eu acho que entendo a tua angústia.
Desde sempre, a gente é ensinada a pensar de maneiras específicas sobre determinados tópicos. Alguns deles tu citaste no teu comentário: o homem tem que ser forte, a mulher precisa ser delicada, mulher bonita e feminina usa vestido e cabelos compridos, um casal é constituído por um homem e uma mulher...e por aí vai.

Eu entendo que seja confortável pensar desse jeito, porque, afinal, tudo fica regrado e previsível: a gente sabe exatamente como as coisas devem ser. E entendo, também, que gere alguma angústia quando algo foge do padrão com o qual estamos acostumados.

O que acontece, Aline, é que, por mais que esse mundo certinho e previsível ao qual te referes possa ser confortável, ele também é um bocado engessante. Porque quando a gente se prende muito a regras e rótulos (que foram impostos por quem mesmo?), acaba limitando as nossas possibilidades de conhecer (e se encantar!) pelo que é diferente. O mundo tem tantas e tantas possibilidades, Aline. São infinitas! Muitas e muitas mais do que aquelas que nos fizeram acreditar. O amor, então, nossa!, o amor não merece nenhuma barreira. O amor deveria arrebatar. Sempre.

Eu estou te dizendo isso porque houve um tempo em que eu também não sabia que essas possibilidades existiam. Eu fui ensinada, desde pequena, que meninas namoram meninos. Ninguém me contou que poderia ser diferente (e que não seria uma aberração se fosse diferente). Então, o que eu fiz? Namorei com meninos, claro. E eu gostava até. Era bom, era divertido. Mas não tinha aquele algo a mais, sabe? Desde pequena, também, eu lembro de ter sentido, vez ou outra, meu coração acelerar, um frio na barriga, quando estava perto de alguma amiguinha. Mas eu ainda vivia naquele mundo quadradinho sobre o qual te falei antes, então acabava achando que era apenas uma amizade muito grande mesmo. Eu nem imaginava que era possível ser outra coisa. O amor romântico entre duas mulheres era algo que simplesmente não existia como possibilidade na minha cabeça. Eu não sabia que isso poderia acontecer.

Mas aconteceu.

Eu conheci a minha companheira há 7 anos e estamos juntas desde então. É um amor tão bonito, Aline. Tu não fazes ideia! Mas sabe o quê? Se te angustia não entender esse sentimento entre duas mulheres (ou dois homens), faz assim ó: não pensa que são duas mulheres. Pensa apenas que são duas PESSOAS. Duas pessoas que se amam. Porque essa é que é a verdade: o amor ocorre entre pessoas. Se é mulher, se é homem, se é um homem que se sente como mulher, se é uma mulher que se sente como homem... Isso não importa. O que importa é que somos pessoas, apenas pessoas. Que amam! Olha que bonito :)

Mas pra encerrar, que isso aqui está gigante, queria te contar também que ano passado minha companheira e eu escolhemos a Suzi e a Lu para serem madrinhas da nossa união estável (não, ainda não casamos, mas está nos planos). Além de elas serem grandes amigas, o principal motivo da nossa escolha foi o fato de elas serem um exemplo de casa
1l modelo nas nossas vidas. E isso não tem nada a ver com o fato de serem duas mulheres. Elas são exemplo de CASAL, entendido aqui como pessoas que se amam tanto, mas tanto, que decidem compartilhar uma vida. Não tenho, entre TODOS os meus amigos, independente do rótulo que carreguem (hetero, homo, bi, tri ou tetrassexuais...), duas pessoas que se amem mais, que sejam mais companheiras (e há tanto tempo!) do que essas duas.

Felizes as pessoas, Aline, que têm a honra, a oportunidade de ter um amor assim nas suas vidas. E isso, realmente, não tem como entender, só dá pra sentir :)

Um forte abraço!
Morena

6 comentários:

  1. Curti o comentário da moça, principalmente pq Aline Marias da vida normalmente não comentam esse tipo de coisa por medo de represálias. Imagina soltar uma opinião contrária ao que todo mundo está dizendo? Tem que ter coragem. Por isso parabéns para a moça. Pela tolerância ao desconhecido, e pela coragem em expor as dúvidas.

    E sobre comentários de blogs e notícias, Morena, eu já li muito na vida e insisti que havia esperança na Humanidade -- devem ter outras Aline Marias por aí --, mas dada a quantidade de gente idiota que deixa comentários agressivos/estúpidos/ignorantes/coisa que eles nunca diriam se estivessem falando diretamente com a pessoa, eu em geral prefiro evitar lê-los pq sempre acabo ficando triste ao ser relembrada de quão baixo o ser humano pode ser.

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  2. Não sou tão tolerante quanto a Morena. Acho que a opinião e os questionamentos de Aline Maria devem ser discutidos entre o grupo de amigos e pessoas que cercam o mundinho dela. Não acho enriquecedor alguém que define o amor numa relação entre um macho e uma mulher de cabelos compridos.

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  3. Não importa o que achamos se nada perdemos. O que realmente importa é se achar em si mesmo. Quando alguém se encontra consigo próprio tem o meu aplauso, por certo estará muito mais feliz do que sempre esteve. Julgar menos, inquietar-se mais, é um bom norte aos nossos passos,

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  4. Querida! Que presente esse post!
    Porque, claro, fui lá no blog ler essa história... e que linda história! Chorei, claro, ao ler... e mais um pouquinho ao ver o vídeo.
    Que a gente, em fim, aprenda a amar... a amar assim, bonita e verdadeira e corajosamente!
    Beijo grande! :)

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  5. Morena,

    Foi lindo. Senti a mesma coisa que vc sentiu com o comentário da Aline. Eu tenho muitos amigos que me amam, me aceitam e sei que não entendem.

    E quem entende? Nós mesmos não entendemos... Só sentimos.

    Adorei principalmente ela estar disposta a falar... E Com a aceitação de não entender ela dá um primeiro passo a isso.

    (Pronto deixei meu prmeiro comentário no seu Blog e já coloquei pra segui-lo. E o aparecimento de vcs foi o ponto alto na cerimonia!!! )

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  6. Adoro ler esse post... Hehehe...
    Bjs pra minha afilhada querida!!!!

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