Primeiro dia de aula

Eu estou aqui em Yale como pesquisadora visitante. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas isso quer dizer que estou meio que em um limbo acadêmico: nem estudante nem professora. Posso fazer pesquisa, mas não posso assistir aulas, por exemplo. Pelo menos não oficialmente.

Mas pô!, to em Yale, né?! É uma das melhores universidades do mundo, vários cabeções da minha área dão aula aqui... Então seria um desperdício não aproveitar. Conversa daqui, conversa dali, descobri que é comum os professores autorizarem pesquisadores visitantes a assistir suas aulas. 

Feliz da vida, fui dar uma olhada nas disciplinas oferecidas para a pós-graduação nesse semestre e, pah!, achei A disciplina: tudo a ver com o meu trabalho e ministrada por um daqueles caras fodásticos. Nem pensei duas vezes. Mandei e-mail explicando a situação e perguntando se poderia assistir as aulas dele e... Bem... Esperei, esperei, esperei e... Nada de resposta. Mas tudo bem, se ele é fodástico, também é ocupado, né? Então resolvi que faria todas as leituras do primeiro dia e apareceria na primeira aula para pedir a tal autorização. 

Como não estou matriculada na disciplina, tenho acesso ao roteiro preliminar, com as datas e textos das aulas, mas não ao site onde todo o material é disponibilizado. No problema. Fui atrás dos artigos na internet, li tudo direitinho e me aprontei para a batalha. Aqui o sistema é um pouco diferente do Brasil, o que me deixou um pouco tensa: os professores valorizam muito a participação dos alunos, então ficar quieto não é recomendável, e para isso é preciso ter feito todas as leituras. Tranquilo, né? Pois é, só que tem dias em que a pessoa tem que ler 8 ou 9 artigos (o.O), e não 1 ou 2... Mas tudo bem. Li tudo, me aprontei e só não fui dormir mais cedo porque tinha jogo do Grêmio (e, né, a pessoa tem que ter prioridades na vida). 

No dia da aula, acordei às 6:30, tomei banho, tomei café (sim, aquele...), passei minha roupa pra ficar apresentável (viu, mãe?), cheguei 40 minutos antes no prédio e parei na secretaria para me assegurar de que estava no lugar certo. Tudo certinho, fui para a sala esperar. Claro que não tinha ninguém ainda, então achei que seria bonitinho colocar uma foto no facebook pra receber a força dos amigos, já que eu estava um pouco ansiosa: 

O efeito foi o melhor possível. Insantaneamente, recebi várias curtidas e comentários, o que me deixou bem mais relaxada. Em um dos comentários meu amigo Cris comentou que eu tinha chegado cedo, e eu repliquei com um bem humorado: "Cheguei quase 40' antes... Agora faltam 15' e ainda não tem ninguém. Será que errei o dia? Será que errei a sala? Hahahaha". 

Pois...

Mais uns 5 minutos depois, ainda sozinha, comecei a ficar encucada: "G-Zus, eu tava brincando, mas será que errei alguma coisa mesmo?". Abri o computador, chequei as informações e... Tudo certo! Ufa! 

Mas continuava estranho...

Então fui até a secretaria, perguntei de novo pela sala e (novamente) obtive a confirmação de que estava no lugar certo. 

Resignada, voltei ao segundo andar e, quando cheguei, tinha uma pessoa com cara de professor lá dentro. Aleluia! 

Sorri, feliz da vida, e disse: "Oi! Você é o professor FamosoFulano?". Ele sorriu, super simpático, e disse "Não, eu sou o professor FamosérrimoBeltrano". 

...

...

...

Óbvio que eu esqueci como falar inglês nesse momento, então só saiu um "Oh...ok...". 

Ele sorriu de novo, eu virei as costas e, quando cheguei na porta, consegui perguntar algo como: 

"E você saber se o professor FamosoFulano dar aulas em sala outra neste dia?"

Ao que ele respondeu: 

"Ah, sim, é que nós trocamos de dia, então ele ficou com a quarta-feira [vulgo ontem] e eu com a quinta". 

Aí saiu outro "oh...", esse mais decepcionado, mas consegui articular:

"E esta aula sua ser do quê?". 

"Estatística". 

E essa, claro, foi a deixa pra eu ir embora.

Resultado: 

1) Não, eu não assisti a minha primeira aula, então podem parar de me dar parabéns na foto do facebook (que já tá com umas 60 "curtidas" no momento...). #FAIL

2) Perguntei pro FamosérrimoBeltrano se ele era o FamosoFulano. Parabéns pra mim.

3) Eu sempre quis conhecer o FamosérrimoBeltrano. Ele é Famosérrimo, entendem? Fa-mo-sér-ri-mo. Bom, agora a gente se conhece... E ele acha que eu falo inglês que nem o Tarzan. Yay! 

4) Sim, já mandei e-mail de novo para o FamosoFulano. Ele respondendo ou não, na quarta estarei lá. E talvez na segunda e na terça também, só pra garantir... 

5) Eu poderia estar triste, mas a verdade é que não consigo parar de rir. 

Feliz aniversário, Gordo!

Hoje é aniversário do meu pai, o Gordo. Há quatro anos eu estava em Angola nessa data e escrevi isso aqui pra ele. Achei que hoje estaria triste por não poder te dar um abraço, Gordão. Mas a verdade é que meu coração está cheio de alegria porque te sinto tão perto, mas tão perto, que até consigo sentir o teu cheiro. Tu prometeste, lembra?, que estarias sempre comigo. E assim tem sido. E assim sempre será. Semana passada a lua estava cheia, a lua do papai, já iniciando as celebrações pelo teu dia. Sente aí o meu abraço, Gordo. E, com ele, todo o amor que uma pessoa pode sentir nesse mundo. 

Café

No início deste ano, fui visitar a CláMaria, minha amiga-irmã que estava morando nos Estados Unidos, e ela pediu para eu levar café e mais um monte de outras muambas comestíveis, tipo feijão, lentilha, farofa, doce de leite, paçoca, bis, eoquemaisvocêpuderimaginar. Resumo da história... Levei mais de 5kg de comida na mala e roguei praga para cinco gerações da família dela.

Trecho da nossa discussão, quando cheguei lá bufando com excesso de bagagem:
"Mas CláMaria, tá cheio de café nos Estados Unidos, não é possível que um não seja bom"
"Mas não é, Palmeira..."
(Pausa: Palmeira sou eu. Meus pais são botânicos, então eu nasci uma planta)
"Como pode, criatura?! Tem café colombiano, tem café brasileiro, tem café de cocô de bicho chique (é verdade, veja aqui). Como pode tu só gostares de Melitta?! Se bem que até Melitta deve ter aí..."
"Não sei, o café aqui é ruim"
"G-Zus! Todo café aí é ruim? Valhamedeus, mulher"
"É ruim, to te dizendo, tem gosto de água suja"
"Oh céus, tá bom, pega aí o teu café, pessoa fresca de uma figa"

Alguns meses se passaram e cá eu estou, angolandando nos Estados Unidos, quando descubro que...

BENZADEUS! QUE CAFÉ MAIS HORROROSO!

Sério! É uma água, tipo chafé (definição da Banana), misturada com xixi de gato (definição do Elder), filtrada pela meia suja que meu pai usa pra passar café há aproximadamente 50 anos (definição minha).

E não, não adianta comprar café bom. Eu investi meus preciosos dólares, comprados a um câmbio altíssimo, no que parecia ser um excelente café colombiano, pra justamente não ter erro, e... O café do meu pai, aquele da meia suja, é melhor.

Não sei o que eles fazem com o café. Acho que, como aqui gostam do treco fraco, os grãos que eles mandam pra cá são genéricos ou diluídos em sei-lá-o-quê. Minha mãe vai adorar, certeza.

Mas então... Desculpa, CláMaria. Foi mal aê!

Próxima parada: Nova Inglaterra

Para não quebrar a tradição, dois anos depois, este blog está de volta.

O Angolandanças surgiu em 2009, quando fui angolandar em (tcharam!) Angola. Dois anos depois, em 2011, angolandei rapidamente em Princeton e agora, mais dois anos passados, as angolandanças aportaram na Nova Inglaterra, um pedacinho dos Estados Unidos sobre o qual falarei no futuro.

Para quem não sabe, angolandar significa explorar, desvendar, aventurar. Esse termo não consta (ainda) no Houaiss ou no Aurélio, mas é muito legítimo. Por ser um verbo muito flexível, é possível conjugar angolandar de várias formas. Por exemplo, "eu angolando" é feio, porém correto. No entanto, também pode-se dizer "eu angolandanço"ou "eu angolandeio", flexões muito mais bonitas. No que diz respeito à terceira pessoal do plural, no entanto, não há divergências: "nós angolandamos" é o mais utilizado.

Então é isso. Durante os próximos 11 meses, vem angolandar comigo! A Nova Inglaterra nos espera e as angolandanças estão só começando! :)