Essa postagem não tem nada a ver com estudos, Yale ou New Haven. Nada disso...
Mas não vão embora, o texto tem a ver com angolandanças. Porque angolandar, afinal das contas, é viver. E viver é amar (ai, como sou poética! rsrs).
Na verdade, gostaria de compartilhar com vocês um comentário que fiz em um outro blog. Era pra ser algo super rapidinho, só uma resposta para uma pessoa, mas no fim ficou tão grande e falou tanto sobre o que penso e sinto, que achei que seria legal colocar aqui também.
Então, antes, deixem eu fazer uma contextualização:
No início do mês, duas grandes amigas minhas se casaram. Sim, amigas. Duas. E não, não foi um casamento duplo... Elas casaram uma com a outra mesmo.
Para minha dor (ainda não me recuperei completamente do baque), não pude estar presente na festa. Porque, né, eu to aqui e elas tão aí (ou lá, dependendo de onde vocês estiverem...).
Por outro lado, para minha ENORME felicidade, parece ter sido uma das cerimônias mais lindas que já se viu. Não teve pompa, não teve superprodução, longe disso, mas teve MUITO amor. E como foi tão lindo, e tão emocionante, e tão sensacional, e tão... incomum (sim, ainda é incomum duas mulheres se casarem em Porto Alegre), virou notícia. A Lu, umas das noivas, publicou um relato lindo
nesse blog aqui.
Tudo muito bom, tudo muito bem, fui ler os comentários da postagem sobre o casamento.
Abre colchetes:
[Eu ADORO ler comentários de blogs. Adoro mesmo. Leio até quando são aquelas grosserias que as pessoas gostam de publicar anônimas e que nunca teriam a coragem de assumir na vida real. Acho que os comentários de blog dizem muito sobre a sociedade. Então eu ADORO ler. Só gosto ainda mais quando é aqui, no angolandanças, então deixem de ser preguiçosos e manifestem-se na caixinha! :D]
Fecha colchetes.
Pois bem, no meio dos comentários (que certamente estão sendo moderados, porque não aparece nenhuma grosseria) encontrei um que me deixou muito tocada. Foi o comentário da Aline Maria. Eu não faço a menor ideia de quem é a Aline Maria, mas ela escreveu assim:
Vejam que a Aline Maria entrou em um blog sobre casamento, provavelmente esperando ler sobre as bodas de algum casal tradicional (homem + mulher), e deu de cara com a notícia sobre o casório da Lu e da Suzi. Deve ter sido um choque. Imagino a Aline Maria olhando para a tela do computador, se questionando se estava entendendo certo o que significava aquelas duas mulheres de mãos dadas. Mas mesmo assim a Aline Maria se deu ao trabalho de ler. E leu com muita atenção porque mencionou vários detalhes, como a roupa das gurias, o corte de cabelo, e o desejo delas de adotar uma criança. A Aline Maria não só leu, como sentiu o desejo de compartilhar o que estava sentindo. E não só compartilhou, como, em um texto cheio de angustiados três pontinhos, desabafou sobre a sua dificuldade em entender aquela relação. Mas, mais do que tudo (ou talvez seja melhor dizer, MESMO com tudo), a Aline Maria fez questão de pedir perdão (!) e de dizer que deseja que as gurias sejam bem sucedidas na adoção e que sejam felizes.
Não sei sobre vocês, mas eu fiquei muito comovida com o comentário da Aline Maria.
Talvez por estar acostumada a ler os comentários de blogs e notícias. Talvez por saber que tem MUITA gente que, assim como a Aline Maria, não consegue entender. E talvez por saber, também, que a maioria dessas pessoas tem medo do que não entende e que, acuada pelo seu medo, reage agredindo. São raros, raríssimos, os que conseguem ter a nobreza que a Aline Maria teve para admitir que não entende e para, mesmo assim, conseguir desejar felicidade.
Vocês podem ler a resposta que a Suca deu para a Aline Maria lá no blog. Foi linda!
Eu não resisti e decidi responder também porque achei que a Aline Maria merecia toda a atenção do mundo. Ela parece ser uma pessoa de bom coração. E, nesse mundo doido em que a gente vive, pessoas de bom coração precisam ser bem tratadas.
Abaixo, a minha resposta para a Aline Maria.
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O comentário da Aline Maria me encantou muito e eu espero de coração que tu ainda estejas lendo o que as pessoas estão escrevendo aqui, Aline, principalmente o que respondeu a Suzi.
Queria te dizer, Aline, que eu acho que entendo a tua angústia.
Desde sempre, a gente é ensinada a pensar de maneiras específicas sobre determinados tópicos. Alguns deles tu citaste no teu comentário: o homem tem que ser forte, a mulher precisa ser delicada, mulher bonita e feminina usa vestido e cabelos compridos, um casal é constituído por um homem e uma mulher...e por aí vai.
Eu entendo que seja confortável pensar desse jeito, porque, afinal, tudo fica regrado e previsível: a gente sabe exatamente como as coisas devem ser. E entendo, também, que gere alguma angústia quando algo foge do padrão com o qual estamos acostumados.
O que acontece, Aline, é que, por mais que esse mundo certinho e previsível ao qual te referes possa ser confortável, ele também é um bocado engessante. Porque quando a gente se prende muito a regras e rótulos (que foram impostos por quem mesmo?), acaba limitando as nossas possibilidades de conhecer (e se encantar!) pelo que é diferente. O mundo tem tantas e tantas possibilidades, Aline. São infinitas! Muitas e muitas mais do que aquelas que nos fizeram acreditar. O amor, então, nossa!, o amor não merece nenhuma barreira. O amor deveria arrebatar. Sempre.
Eu estou te dizendo isso porque houve um tempo em que eu também não sabia que essas possibilidades existiam. Eu fui ensinada, desde pequena, que meninas namoram meninos. Ninguém me contou que poderia ser diferente (e que não seria uma aberração se fosse diferente). Então, o que eu fiz? Namorei com meninos, claro. E eu gostava até. Era bom, era divertido. Mas não tinha aquele algo a mais, sabe? Desde pequena, também, eu lembro de ter sentido, vez ou outra, meu coração acelerar, um frio na barriga, quando estava perto de alguma amiguinha. Mas eu ainda vivia naquele mundo quadradinho sobre o qual te falei antes, então acabava achando que era apenas uma amizade muito grande mesmo. Eu nem imaginava que era possível ser outra coisa. O amor romântico entre duas mulheres era algo que simplesmente não existia como possibilidade na minha cabeça. Eu não sabia que isso poderia acontecer.
Mas aconteceu.
Eu conheci a minha companheira há 7 anos e estamos juntas desde então. É um amor tão bonito, Aline. Tu não fazes ideia! Mas sabe o quê? Se te angustia não entender esse sentimento entre duas mulheres (ou dois homens), faz assim ó: não pensa que são duas mulheres. Pensa apenas que são duas PESSOAS. Duas pessoas que se amam. Porque essa é que é a verdade: o amor ocorre entre pessoas. Se é mulher, se é homem, se é um homem que se sente como mulher, se é uma mulher que se sente como homem... Isso não importa. O que importa é que somos pessoas, apenas pessoas. Que amam! Olha que bonito :)
Mas pra encerrar, que isso aqui está gigante, queria te contar também que ano passado minha companheira e eu escolhemos a Suzi e a Lu para serem madrinhas da nossa união estável (não, ainda não casamos, mas está nos planos). Além de elas serem grandes amigas, o principal motivo da nossa escolha foi o fato de elas serem um exemplo de casa
1l modelo nas nossas vidas. E isso não tem nada a ver com o fato de serem duas mulheres. Elas são exemplo de CASAL, entendido aqui como pessoas que se amam tanto, mas tanto, que decidem compartilhar uma vida. Não tenho, entre TODOS os meus amigos, independente do rótulo que carreguem (hetero, homo, bi, tri ou tetrassexuais...), duas pessoas que se amem mais, que sejam mais companheiras (e há tanto tempo!) do que essas duas.
Felizes as pessoas, Aline, que têm a honra, a oportunidade de ter um amor assim nas suas vidas. E isso, realmente, não tem como entender, só dá pra sentir :)
Um forte abraço!
Morena