sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Rapidinha

Hoje bateu uma saudade doída da minha terra e dos meus queridos.
Kleiton e Kledir cantaram no iPod: "deu pra tiiii, baixo astraaal..." e eu fiquei com vontade de cantarolar o resto, mas não pude.
O bom é saber que amanhã tudo vai estar melhor.
Minha TPM é vapt-vupt :)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Antes e depois

Quando ficou definido que eu realmente viria para Angola, comecei a procurar informações sobre o país na internet. Fiquei sabendo sobre a guerra, sobre as minas terrestres, sobre a falta de água e de saneamento básico, sobre o altíssimo custo de vida. O quadro não foi dos mais animadores, mas em nenhum momento me fez pensar em deixar de vir.

Até que encontrei uma foto na wikipédia que fez o meu estômago dar duas voltas e, depois, parar de cabeça pra baixo:


Eu olhei para essa imagem e pensei: "meu deus do céu, que lugar é esse?!". Meu primeiro impulso foi pensar: "no way". O segundo foi ficar desesperada. O terceiro foi controlar os nervos e trazer os pés de volta pra terra. O quarto foi dizer: "eu vou".

A lógica que me orientou é simples: se eu vejo uma coisa dessas e penso em não ir é porque algo está muito errado comigo.

Os dias seguintes a esse primeiro impacto foram de uma certa ambiguidade. Ao mesmo tempo em que eu pensava na foto para ter certeza de que estava fazendo a coisa certa, tentava esquecê-la porque ela gerava uma ansiedade danada em mim. Confesso que, durante esses dias, várias vezes me questionei em segredo se eu tinha duas coisas essenciais para a viagem: estômago para encarar de frente a realidade que me aguardava e competência para fazer algo por essas crianças.

Ao chegar aqui, esqueci do retrato e dos questionamentos. Esqueci completamente. Fiquei tão compenetrada no que estava vendo e vivendo que não pensei mais nas crianças da sala de aula aí acima. Pensei em outras, mas não nessas.

Até que, semana passada, procurando uns arquivos no computador, me deparei novamente com a foto. Foi uma sensação estranhíssima. Ao mesmo tempo em que lembrei de todo aquele espanto que senti na primeira vez em que a vi, olhei para o curioso retrato e percebi que ele poderia ter sido clicado em qualquer uma das escolas que visitei, em qualquer um dos lugares por onde andei. Encontrei rostos conhecidos em um cenário deveras familiar.

E foi como se a foto se desdobrasse em duas: a do antes e a do depois. Assim como também eu me desdobro em duas: a do antes e a do depois.

Cabelo brasileiro

Minha mãe acabou de escrever sobre a Lesliana Pereira, repórter angolana, em um recado no post aí de baixo. Parece que ela fez uma reportagem sobre os cabelos das mulheres negras no Brasil e que, depois da viagem, decidiu trocar suas madeixas escorridas à la Naomi Campbell pelo seu cabelo cacheado original, à la Taís Araújo na novela das oito.

Só a título de curiosidade: Lesliana Pereira é repórter da Globo Internacional. Ela foi Miss Angola em um ano qualquer e, segundo Cléa, já participou de algum fime da Xuxa.
Esses dias teve o Dia da Amizade Angola-Brasil aqui em Luanda. Algo no estilo do Brazilian Day, que ocorre em vários lugares do mundo. Os apresentadores do show eram o Luciano Huck e a Lesliana. A Xuxa foi a grande atração da noite (por isso que ela e a Xaxa estavam aqui).

Mas, enfim, tudo isso foi pra dizer que essa história de cabelo é um caso a parte aqui em Angola. Eu até escreveria sobre isso, mas Cléa já o fez (aqui nesse link) e eu não o faria melhor. Recomendo fortemente a leitura! Só para dar um gostinho:

"Quando cheguei em Angola, uma coisa me chamou a atenção: os cabelos das mulheres. Baseada no termo que usamos no Brasil, 'cabelo afro', imaginei que aqui fosse encontrar as mulheres com suas belas cabeleiras eriçadas, seus penteados de tranças e coisas assim. Ledo engano! Fiquei surpresa quando vi que a maioria esmagadora delas usa cabelos lisos. Pior, usam perucas!!! (...)"

No fim do texto, Cléa praticamente profetizou que Lesliana usaria os cabelos crespos depois de ver a Taís Araújo na telinha... Hehehehe

Da série "acredite se puder" IV

Encontramos essa figura no aeroporto em uma das nossas andanças pelo país. A foto, no entanto, não faz jus à beleza do momento!

Nosso amigo rubro estava chiquetérrimo! :) Cada uma das peças de roupa era de um tecido diferente. A calça era jeans, o paletó de um tecido mais social, o colete parecia de seda, a camisa era de algodão e tinha bolinhas vermelhas. Destaque especial para a gravata borboleta e para o óculos ray-ban de plástico.

Ia pedir para tirar uma foto com ele e, embora acredite que ele adoraria, fiquei com receio de ofendê-lo. O jeito foi fingir que estava tirando uma foto de Cléa, enquanto enquadrava-o ao fundo. Não poderia deixar de mostrar uma maravilha dessas pra vocês!

Ah! Detalhe: a meia era azul... Não se pode querer tudo, né?!

sábado, 24 de outubro de 2009

Os US$120 e a dona do mundo

Hoje a AEBRAN (Associação de Empresários e Executivos Brasileiros em Angola) organizou a sua tradicional feijoada anual para brasileiros aqui em Luanda. Eu estava louca pra ir, mas, sabe como é, sou uma pobre estudante de mestrado angolandando por aqui e o ingresso era... US$120! Isso mesmo, tu não leste errado: cento e vinte dólares! Tudo bem, incluía a feijoada, várias entradas e sobremesas, bebidas (água, refri, cerveja, caipira, uísque...) e alguns shows, mas isso não ameniza o fato de que custava cento e vinte dólares! É, porque não é todo mundo que tem cento e vinte dólares pra gastar assim. Afinal das contas, cento e vinte dólares são cento e vinte dólares, oras!

Pois bem. Chorei por uma cortesia com todos os meus contatos influentes, mas me asseguraram que essa festa era exclusiva e que ninguém conseguiria esse tipo de barbada. Passei a semana inteira me debatendo por causa dos tais cento e vinte dólares. Sim, não contem pra ninguém, mas eu realmente cogitei a possibilidade de pagar essa quantia astronômica para prestigiar o evento. Antes de me chamarem de louca, leiam a próxima frase. Vocês não sabem de quem era um dos shows... Sim, ele mesmo! Heavy C!! (ah, nunca contei, mas no inglês angolano lê-se: Êivi Cí! hehehehe)

Fiquei então nesse dilema: pagar ou não pagar, eis a questão! Depois de várias indas e vindas, o meu lado sensato imperou e resolvi não pagar. Porque é aquela coisa: cento e vinte dólares são, realmente, cento e vinte dólares! Confesso que fiquei um pouco triste comigo mesma, mas acabei superando a decepção e decidindo ir comer uma feijoada de US$13 com dois amigos que também são pobres. Treze dólares dava pra pagar... A feijoada não era lá essas coisas, mas resolvi abstrair a questão toda do Êivi Cí e me diverti um bocado.

Pouco tempo depois de comer até estourar, recebi um telefonema milagroso. Era uma amiga dizendo que havia conseguido dois ingressos para Cléa e eu irmos de graça na feijoada de cento e vinte dólares! Pois é povo, eu não sou a dona do mundo, mas sou amiga da dona ;) Saí correndo de onde estava e voei para o lugar da festa. Esses ingressos que sobraram eram de dois caras da imprensa que resolveram não ir. Que pena pra eles! Hehehehe

Chegando lá, ganhei uma camiseta com o desenho de um feijãozinho simpático e fiquei esperando o meu ídolo chegar! Nesse ínterim, petisquei um bocado e bebi tudo o que tinha direito. Não importava que eu já tivesse almoçado. Afinal, o ingresso custava cento e vinte dólares! Eu tinha que aproveitar! :D

O show do Êivi Cí foi ótimo, mas vocês acreditam que ele não cantou a música da Neusa?! Pois é, nem adiantou Cléa gritar na frente do palco: "eu sou a Neeeusa". Hehehehe No final fomos lá falar com ele. Eu contei que fiquei tristíssima por não ter ouvido "como me sinto eu" (a música da Neusa). Ele ficou todo sem jeito (tão fofo!) e disse que não sabia que a gente conhecia a música. Foi um encontro muito simpático! Fora que ele é um charme, né... Eu só lembrava da Mocre! (a minha amiga que peida, mãe) :D

Depois do Êivi Cí quem tocou foi a fantástica dupla sertaneja brasileira Síííílvioooo e Róóóbsooon! :D Foi muito divertido! Nunca tinha ouvido falar nos caras, mas me diverti horrores! Quase fui à loucura pulando quando eles começaram a cantar: "borboleeeetas sempre voooltam e o seeeu jardim sou eeeeuuu". Não sei se meu currículo ficou manchado na empresa depois dessa, mas eu cantei e dancei até não poder mais! Foi ótimo!! :)

Aqui em Luanda é tudo muito complicado em termos de diversão. O povo trabalha feito doido e tem pouquíssimas oportunidades para se distrair, então é ótimo quando tem um evento como esse. Fiquei muito feliz de ter ido! Muito mesmo! E ainda bem que não precisei desembolsar os tais cento e vinte dólares. Ficou perfeito! :)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Da série "devaneios"

Estava aqui a pensare com os meus botões e resolvi compartilhare com os botões de vocês também.

Tudo começou com um diálogo simples. Cléa e eu estávamos trabalhando juntas com os dados de uma planilha quando empaquei e comecei a reclamar de alguma coisa. Ela riu e disse: "deixe de ser birrenta, Branca", ao que eu respondi, também rindo: "é, eu sou birrenta mesmo". E ela, por fim, completou: "e eu não sei...".

A conversa não durou nem um minuto, mas me deixou encucada durante um bom tempo.

Lembro que, quando saí de Pelotas e fui morar em Porto Alegre, pensei: "essa é a minha chance de ser uma pessoa diferente...". Não se tratava de adotar um novo nome, pintar o cabelo de loiro, nem nada disso, mas sim de corrigir alguns defeitos e mudar estereótipos construídos durante anos de convivência.

Sei que essa expectativa que envolveu minha mudança de cidade também acomete boa parte das pessoas que viajam, vão para outro lugar, trocam de emprego, de escola, de cidade, de país... O pensamento é mais ou menos o seguinte: "ninguém me conhece, então posso ser quem eu quiser".

E é aí que entra a minha encucação. Fiquei aqui pensando sobre isso tudo e tentando chegar a alguma conclusão. Será que eu posso mesmo ser quem eu quiser? Duvido.

É claro que cresci e aprendi muito quando fui morar sozinha e que isso necessariamente implicou em uma certa mudança pessoal. Apesar disso, a maioria daqueles defeitinhos chatos dos quais eu queria me livrar continuou lá. Eles fazem parte de mim, não importa se estou em Pelotas, em Porto Alegre ou em Luanda.

Essa questão dos defeitos é complicada porque alguns deles acabam reaparecendo depois de um tempo, mesmo que tu te esforces para disfarçá-los. Mas isso também não quer dizer que essas mudanças (de emprego, de escola, de cidade...) não propiciem novas possibilidades. E talvez uma das mais legais seja mesmo a de poder modificar os estereótipos construídos ao longo do tempo e dos quais fica difícil se livrar quando não ocorre algum tipo de rompimento.
As pessoas evoluem, mas nem sempre a família e os amigos mais próximos percebem. E isso incomoda um bocado. Quando tu trocas de cidade, as pessoas não têm definidos esses pré-conceitos sobre ti (podem ter outros, mas não esses). E acho que, no fim das contas, isso facilita muito o estabelecimento de novas relações porque tu ficas livre para ser quem de fato és, sem precisares te preocupar com cobranças e julgamentos baseados em eventos passados.

Bom, mas depois de tanta elucubração, o que fica é a conclusão de que...







...eu, de fato, sou birrenta! E não há troca de cidade que mude isso ;)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mate amargo

Estou tentando disseminar a cultura do mate amargo aqui por esses pagos longínquos. Sou quase uma atração turística, todo mundo que me vê com a cuia na mão pára pra conversar sobre o assunto. Um dia desses uma das funcionárias angolanas aqui da empresa veio me explicar que eu precisava esperar a luzinha do aquecedor apagar para garantir que a água havia fervido. Foi engraçado tentar fazê-la entender que o segredo era justamente desligar o aquecedor um pouco antes do ponto de fervura.

Mas voltando ao mate... Poucos têm coragem de experimentar, mas aos poucos vou angariando novos adeptos. A Cléa, minha colega pedagoga, de vez em quando me acompanha. Eu acho ótimo! O problema é quando ela está lá sorvendo o amargo e resolve brincar com a bomba (o que ocorre sempre). Sério, a pessoa acha que aquilo é um canudinho. Não sei quem é pior, ela ou a Ieva, minha amiga portuga. Pelo menos a Cléa só mexe na bomba: a Ieva tem mania de ficar brincando com a dita cuja como se fosse uma colher! Hehehehe

Bom, para evitar problemas como esse, procurei os dez mandamentos do chimarrão na internet. Acho que vou fazer um manualzinho para distribuir aos interessados e, dessa forma, evitar peleias desnecessárias! :)

1- NÃO PEÇAS AÇÚCAR NO MATE

O gaúcho aprende desde piazito o porquê o chimarrão se chama também mate amargo ou, mais intimamente, amargo apenas. Mas se tu és de outros pagos, mesmo sabendo, poderá achar que é amargo demais e cometer o maior sacrilégio que alguém pode imaginar nesse pedaço do Brasil: pedir açúcar. Pode-se por água, ervas exóticas, cana, frutas, cocaína, feldspato, dollar, etc... mas jamais açúcar. O gaúcho pode ter todos os defeitos do mundo, mas não merece ouvir um pedido desses. Portanto, tchê, se o chimarrão te parece amargo demais, não hesites, pede uma coca-cola com canudinho. Tu vais te sentir bem melhor.

2- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO É ANTI-HIGIÊNICO

Tu podes achar que é anti-higiênico por a boca onde todo mundo põe. Claro que é. Só que tu não tens o direito de proferir tamanha blasfêmia em se tratando de chimarrão. Repito: pede uma coca-cola de canudinho. O canudo é puro como a água de sanga (pode haver coliformes fecais e estafilococos dentro da garrafa, não nele).

3- NÃO DIGAS QUE O MATE ESTÁ QUENTE DEMAIS

Se todos estão chimarreando sem reclamar da temperatura da água, é porque ela é perfeitamente suportável por pessoas normais. Se tu não és uma pessoa normal, assume tuas frescuras (caso desejes te curar, recomendamos uma visita ao analista de Bagé). Se, porém, te julgas perfeitamente igual aos demais, faze o seguinte: vai para o Paraguai. Tu vai adorar o chimarrão de lá.

4- NÃO DEIXES UM MATE PELA METADE

Apesar da grande semelhança que existe entre o chimarrão e o cachimbo da paz, há diferenças fundamentais. Como o cachimbo da paz, cada um dá uma tragada e passa-o adiante, já o chimarrão não. Tu deves tomar toda a água servida até ouvir o ronco da cuia vazia. A propósito, leia logo o mandamento abaixo.

5- NÃO TE ENVERGONHES DO "RONCO" NO FIM DO MATE

Se, ao acabar o mate, sem querer fizer a bomba "roncar", não te envergonhes. Está tudo bem, ninguém vai te julgar mal-educado. Esse negócio de chupar sem fazer barulho vale para a coca-cola com canudinho que tu podes até tomar com o dedinho levantado (fazendo pose de assumida).

6- NÃO MEXAS NA BOMBA

A bomba de chimarrão pode muito bem entupir, seja por culpa dela mesma, da erva ou de quem preparou o mate. Se isso acontecer, tens todo o direito de reclamar. Mas por favor, não mexas na bomba. Fale com quem te passou o mate ou com quem lhe passou a cuia. Mas não mexas na bomba, não mexas na bomba e, sobretudo, não mexas na bomba.

7- NÃO ALTERE A ORDEM EM QUE O MATE É SERVIDO

Roda de chimarrão funciona como cavalo de leiteiro. A cuia passa de mão em mão, sempre na mesma ordem. Para entrar na roda, qualquer hora serve, mas depois de entrar, espera sempre a tua vez e não queiras favorecer ninguém, mesmo que seja a mais prendada prenda do estado.

8- NÃO CONDENES O DONO DA CASA POR TOMAR O PRIMEIRO MATE

Se tu julgas o dono da casa um grosso por preparar o chimarrão e tomar ele próprio o primeiro mate, saibas que o grosso és tu. O pior mate é o primeiro, e quem toma está te prestando um favor.

9- NÃO DURMAS COM A CUIA NA MÃO

Tomar mate solito é um excelente meio de meditar sobre as coisas da vida. Tu mateias sem pressa, matutando... E às vezes te surpreendes até imaginando que a cuia não é cuia, mas o quente seio moreno daquela chinoca faceira que apareceu no baile do Gaudêncio... Agora, tomar chimarrão numa roda é muito diferente. Aí o fundamental não é meditar, mas sim integrar-se à roda. Numa roda de chimarrão, tu falas, discutes, ris, xingas, enfim, tu participas de uma comunidade em confraternização. Só que essa tua participação não pode ser levada ao extremo de te fazer esquecer a cuia que está na tua mão. Fala quanto quizeres mas não esqueças de tomar o teu mate que a moçada tá esperando.

10- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO DÁ CÂNCER NA GARGANTA

Pode até dar. Mas não vai ser tu, que pela primeira vez pega na cuia, que irás dizer, com ar de entendido, que o cancerígeno. Se aceitaste o mate que te ofereceram, toma e esqueces o câncer. Se não der para esquecer, faz o seguinte: pede uma coca-cola com canudinho que ela etc... etc...

PÉRCIO DE MORAES

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Pensamento peculiar II

O ar condicionado da sala onde trabalho está desregulado. Ora fica muito frio, ora muito calor, e isso independe da temperatura que consta no controle remoto. Chamamos o técnico de manutenção. Que é português, diga-se de passagem.

"Qual é o problema?"
"O ar condicionado está desregulado e a temperatura varia muito"
"Ora, mas pra mim está fresco"
"Pois é, mas pra mim não está. O controle está marcando 18°, mas não está 18° na sala"
"Mas está fresco, oras, isso é o que importa. Onde já se viu, vocês querem passar frio?"
"Não, só queremos poder escolher a temperatura da sala. O senhor pode consertar o ar, por favor?"
"Mas consertar o quê, ora bolas? Está fresco. Sai vento. Está bom"

E não teve cristo que o convencesse do contrário...
Foi preciso rir pra não chorar. Haja paciência, viu?!
Ah, e o ar condicionado continua desregulado!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ixi Yeto Yatululuka

Quinta-feira fui ao coquetel de lançamento do novo CD de Filipe Mukenga, famoso cantor angolano. Ele fez um pocket show e apresentou o clipe da primeira música do CD: "Ixi Yeto Yatululuka". Achei muito bonita e compartilho a letra aqui com vocês:

Ngana Nzambi, amém / Ngana Nzambi, amém / Ndenu ni Nzambi / Ndenu ku sanguluka / Eme ngondodionda, kua Nzambi / Tu aloloké ó ituxi yeto / Ixi yeto yatululuka / Nga sanguluka kia / Lelu kizua kia ngalasa, kia ku jimba / Mu kuaxi, mu kua Ngola, ó mauta já dixiba / Tondo kalakala kia, ni nguzu, ni ngoma / Lelu jimbenu ioso ituabite mukulu / Lelu jimbenu ioso ituabite, an'angola

Senhor, amém / Senhor, amém / Ides com o senhor / Ides festejar / Eu rogarei a Deus que perdoe os nossos pecados / A nossa terra está em paz e eu estou alegre / Hoje é dia de graças, dia para esquecer / E vós que sois da terra, vós angolanos / Saibam que as armas se calaram / Trabalhemos agora, com força, com batuque / Esqueçamos o que passou no antigamente / Esqueçamos o que aconteceu, filhos de Angola

sábado, 17 de outubro de 2009

Dia do homem

Sexta-feira em Angola é dia do homem. Todas as sextas-feiras os homens ficam liberados para sair e fazer farra enquanto suas mulheres ficam cuidando dos afazeres domésticos. Eu sempre brinco dizendo que os angolanos devem ser todos homossexuais, já que os homens podem sair e as mulheres não. Vai entender...

Não existe um dia da semana reservado para a mulher.

Aqui a poligamia masculina é permitida e, em muitos casos, incentivada. À mulher cabe a tarefa de aceitar tudo calada, enquanto carrega os filhos nas costas e o resto na cabeça. Não existe essa história de cavalheirismo: se há algo pesado a ser carregado, quem o faz é a mulher. O homem segue de mãos vazias, enquanto aprecia a paisagem.

Mulher é objeto, propriedade.

No início da coleta de dados, ainda no Cunene, presenciei uma das cenas mais chocantes da minha vida. Já comecei a contar esse episódio várias vezes aqui no blog, mas sempre desisto antes de chegar ao fim. Ainda hoje, quando lembro do ocorrido, meu rosto arde como brasa. É a tal da ferida difícil de cicatrizar...

Estávamos em uma sala de aula entrevistando um grupo de quatro mães, quando um senhor, fardado com o uniforme da polícia, entrou abruptamente no recinto. Olhei pra ele, me apresentei e perguntei em que podia ajudar. Com modos rudes e sem prestar atenção ao que eu dizia, ele mandou que eu continuasse o meu trabalho, apontou para duas mulheres e mandou que elas saíssem da sala. Eu expliquei que a entrevista não iria demorar muito, mas ele me interrompeu e, apontando para as duas, disse convicto: "são minhas! essa e essa são minhas! as outras duas não...". E riu.
Enquanto falava, se aproximou de uma delas e começou a desferir-lhe fortes tapas nos braços. A mulher ria encolhida, tentando se proteger, enquanto olhávamos atônitas para a cena. Quando cansou de bater na primeira mulher, ele olhou para nós, deu vários tapas de satisfação em sua própria barriga e explicou que estava com fome e que as mulheres deveriam ir logo preparar sua comida. Ficamos sentadas, sem fala, com o rosto em fogo, misto de ódio e humilhação, enquanto aquela figura patética continuava em nossa frente proferindo absurdos e agredindo "suas" mulheres. Alguns instantes depois, aparentemente convencido de que as duas não tardariam a ir para casa, ele se dirigiu à porta. Antes de sair, porém, voltou e deu uma bofetada violenta no rosto da segunda mulher, que, constrangida, baixou a cabeça.
Meu estômago deu uma volta tão violenta quanto a bofetada e, com os olhos cheios d'água, tive que me segurar para não partir para cima do animal que saía da sala. Naquele instante, nenhum método de tortura parecia suficiente para a dor que eu desejava que aquele monstro sentisse.
Ele bateu a porta e ficamos as seis mergulhadas em silêncio naquela sala que parecia pequena demais para tanto constrangimento, para tanta impotência, para tanta humilhação. Sem saber o que fazer, dissemos que elas poderiam ir para casa se quisessem. Elas ficaram. Nós ficamos. Seis mulheres em uma sala partilhando, sem palavras, um momento de dor profunda. Dor rotineira para quatro delas. Dor revoltante para as outras duas.

Horário brasileiro de verão

A partir de hoje à meia-noite (esse hífen ainda existe?) vamos ficar a apenas três horas de distância. Oba! Me sinto cada vez mais pertinho de vocês! :)

Da série "diálogos curiosos"

Trecho de conversa trazido pelo vento enquanto eu andava na rua:

"...eu prefiro as cobras porque cobra a gente sabe que é venenosa e pica, então fica atento. Mulher não..."

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Como te sentes tu?

Vocês lembram da música "Como me sinto eu", do Heavy C, que postei logo que cheguei em Angola? Pois então! Descobri que, na verdade, aquela é uma resposta à canção "Como te sentes tu?", interpretada pela Ary!

Bafafá geral! O cara traiu a mulher com um monte de gente, inclusive com a Neusa, lembram dela? A namorada traída, para se vingar, também saiu com outro. E aí, depois de saborear sua vingança, pergunta a ele algo do tipo: "e agora, rapaz, como te sentes tu?". E, então, a história toda se desenrola... Não é o máximo?! Hehehehehehe Reparem na cara do malandro quando pega a mulher o traindo. É cômico!

Ah! Não deixem de ouvir a resposta do Heavy C de novo depois de verem o clipe da Ary! Agora faz muito mais sentido! :)


Como te sentes tu?
Diz-me se sabes bem?
Ser traído também
Como te sentes tu?

A nossa relação não durou
Tu dizes que a culpada fui eu
Mas ouve lá
Espera lá
Agora deixa-me falar

Eu sei que fui fraca e caí muito baixo
Em vez de amor te fiz passar um mau bocado
Pode parecer hipocrisia
Mas eu te amo

Mas tu me magoaste tanto
Me traíste muito
Teu amor foi falso
E eu só fiz o mesmo
Dei-te teu veneno
Agora diz-me algo...

Como te sentes tu?
A vítima és tu
Agora sou eu quem diz que foi só uma curtição
Diz-me se sabes bem
Ser traído também
Agora és tu que estás na minha posição

Como te sentes tu?

Quando saíste com a Neusa disseste que era a primeira e a última
Depois curtiste com aquela cujo nome prefiro nem citar
Fizeste muitas porcarias
Fui fiel até um dia
Burra sou eu pois mesmo assim eu te amo

Mas tu me magoaste tanto
Me traíste muito
Teu amor foi falso
E eu só fiz o mesmo
Dei-te teu veneno
Agora diz-me algo...

Como te sentes tu?
A vítima és tu
Agora sou eu quem diz que foi só uma curtição
Diz-me se sabes bem
Ser traído também
Agora és tu que estás na minha posição

Baby quando eu te traí é porque eu tinha motivos
Só espero que um dia tu entendas isso...
Como te sentes tu?
Ser traído também
Diz-me se sabes bem?


Obs.: para os que não entenderam nada, o título do primeiro post, que foi publicado em agosto, é Kizomba.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Conflito

Não sei como está a repercussão no Brasil, mas há alguns dias um estremecimento das relações entre Angola e a República Democrática do Congo (antigo Zaire) tem deixado a população preocupada.

O conflito começou quando o Governo de Angola resolveu expulsar do país milhares de congoleses que, teoricamente, estariam explorando ilegalmente as minas de diamante angolanas. O Congo, que recebeu um número incontável de angolanos no período da guerra civil, não gostou da atitude e decidiu fazer uma retaliação e também expulsar os angolanos de seu território. Estava armada a perrenga.

Os números são desencontrados, mas, ao que tudo indica, mais de 20 mil angolanos já foram expulsos do Congo, quantidade semelhante a de congoleses que foram expulsos de Angola. Famílias estão sendo separadas e tem gente perdendo tudo o que construiu durante anos.

Por enquanto não se fala abertamente em guerra, mas é claro que a população, traumatizada depois de tantos anos de lutas, está aflita. Pessoalmente, acredito que essa é uma situação que pode ser facilmente resolvida caso o tio da foto queira de fato fazê-lo. Acabei de ler uma notícia da BBC dizendo que os dois Governos parecem ter chegado a um acordo para encerrar as expulsões. Tomara que seja mesmo verdade.

Quanto a mim, vocês não precisam se preocupar (viu, pai?! hehehehe). A notícia é apenas para que vocês saibam o que tem ocorrido no país. Luanda está bem distante do epicentro da crise. Na verdade, a capital praticamente não sofreu fisicamente com nenhuma das guerras. É por isso que a maioria da população angolana está concentrada aqui. E é por isso também que a cidade é tão caótica, mas isso dá assunto para um outro post inteiro... :)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dois meses

Hoje completo exatos dois meses em Angola.
Contei isso para alguém e a pessoa respondeu o previsível: "como passa rápido, né?", que é o que muitos de vocês também devem ter pensado.

Não sei se passa rápido... Às vezes sim, às vezes não.

O último mês foi um pouco atípico porque fiquei o tempo inteiro viajando devido à coleta de dados. Como eu estava muito envolvida com o trabalho e com os deslocamentos, pareceu que passou rápido. Mas, mesmo nesse período, foram incontáveis os dias em que me peguei querendo apressar os ponteiros do relógio para poder ver os meus queridos todos e, confesso, para comer todas as comidas gostosas com as quais tenho sonhado.
Em contrapartida, é possível que nos próximos dias eu queria que os ponteiros do relógio se movimentem em câmera lenta. Precisamos escrever o relatório da pesquisa e os prazos estão apertadíssimos...
Então, no fim das contas, acho que tudo depende mesmo do ponto de vista e do estado de espírito de quem vivencia cada experiência. E essa história de que o dia tem 24 horas acaba sendo meio relativa!
O certo é que estou tentando viver esses dias intensamente e aproveitar tudo o máximo que posso porque logo, logo tudo isso acaba e eu com certeza vou pensar, assim como a pessoa com a qual conversei hoje: "bah, mas como passou rápido!".

Pois é, eu também sou previsível! ;)

domingo, 11 de outubro de 2009

Inacreditável!

Bah! Esqueci de contar pra vocês!

Semana passada estávamos em Andulo, voltando da coleta de dados. O carro fazia seu trajeto tranquilamente, avançando sobre os buracos enquanto pipocávamos no banco de trás. Normal. O dia estava bonito: o sol brilhava e o céu estava azul. Eu dividia os fones do meu iPod com Cléa e aproveitava o chacoalhar do carro para dançar ao som de uma música muito boa (que todas as músicas do meu iPod são muito boas).
De repente, com o meu ouvido que estava livre do fone, ouvi um barulho: poc! Normal. De vez em quando alguma coisa bate no carro e faz poc. Tudo bem, voltei a me concentrar na música. Pouco tempo depois, algo novamente se chocou contra a lataria do carro e fez "tac!". Olhei desconfiada para fora do carro, mas não vi nada e comecei a cantarolar, ainda com o olho na estrada. Foi então que eu vi e ouvi: "poc! tac! poc!". Embasbacada, falei alto: "pedra, tá chovendo pedra". O pessoal do carro não deu bola e riu da minha cara.
Poucos segundos depois, as crianças começaram a rir e a correr na rua. Enquanto o povo do carro olhava incrédulo, elas catavam pedrinhas de gelo, felizes da vida. Dentro do carro, o barulho das pedras já não tinha como ser ignorado: "pocpocpoc! poc! tac! poc! tactactactac! poctacpoctactac!".

Granizo! Choveu granizo em Angola! Em Angola! Em um dia de calor e céu azul! Dá pra acreditar?
Me senti praticamente em casa! :)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Conquista!

Hoje ganhei o meu primeiro set em um jogo de tênis! Perdi por incríveis 2 sets a 1! Ou seja, ganhei 1!! Mazah! Brilhantes e suados 7/6, com 7/5 no tie break! Te cuida, Serena! A Palmeira tá com tudo! :D

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Acabou!

Hoje acabou a coleta de dados. Ainda teremos que reaplicar alguns questionários em Luanda na semana que vem, mas esse vai ser só o arremate final. Embora o último mês tenha sido ótimo, a correria deixou sinais visíveis em todo mundo, e não só no corpo (que está todo dolorido). O pior é a cabeça mesmo.

Algumas situações que eram levadas na boa no início do mês, hoje em dia me fazem quase subir nas tamancas. É preciso muuuito autocontrole pra não soltar as patas em quem não tem culpa nenhuma do meu cansaço. Por exemplo...

Aplicação de questionário com um aluno.
"Quem são as pessoas que moram na tua casa?"
Silêncio... Ele olha pra cima, pro lado, pra baixo.
"Tu entendeste a pergunta?"
"Sim"
"E então, quem mora contigo?"
"Cinco"
"Hein?"
"Quatro"
"Não, não estou a perguntar quantas pessoas moram na tua casa...quero saber quem é que mora lá junto contigo"
"Dois"
(a entrevistadora respira fundo e conta até dez pra não quebrar o lápis com o qual preenche o questionário)

No mais, está tudo tranquilo. A coleta foi muito boa. Amanhã vamos enfim voltar para Luanda. Agora vai começar uma nova etapa: análise de dados e elaboração de relatório. Talvez ela seja até mais cansativa do que a coleta de dados, mas ao menos não teremos que enfrentar os deslocamentos.
Queria férias! Um dia desses sonhei com o Sashiburi! Foi tããão bom! :D

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

domingo, 4 de outubro de 2009

Da série "acredite se puder" II


Por fim consegui tirar foto do "painel de embarque" do aeroporto de Luanda. Vejam bem: Luanda! A capital do país...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Rapidinhas de hotel

O hotel em que estamos aqui em Luena é o ó do borogodó.

A chave dos quartos é magnética, mas nunca funciona. A criatura da recepção insiste dizendo que a culpa é minha e que eu deixo a chave junto do celular. Não há cristo que a convença de que eu não desmagnetizo a chave e de que o problema deve ser no sistema deles. Resultado: sempre que volto do campo tenho que fazer um escândalo até que alguém resolva abrir a minha porta.

O restaurante do hotel é cheio de opções no cardápio, mas é super difícil encontrar algo que eles saibam fazer. "Um pastel de bacalhau, por favor" "Ah não, esse nunca saiu não senhora" "E por que tem no cardápio?" "Ah, é que um dia pode sair, né...".

O bife de picanha parece sola de sapato. Um dia desses pedi para falar com o cozinheiro e tentei explicar como é que se faz. Depois disso deu até pra mastigar.

Hoje cheguei da coleta de dados, descansei um pouco e fui fazer xixi. Quando entrei no banheiro dei de cara com um cocô no vaso sanitário. Parece que eu atraio essas coisas...digo, cocôs no vaso. Sério, sempre sou eu que encontro! No meu quarto de Saurimo também tinha um. Mas lá foi no dia em que cheguei. Aqui não, to nesse hotel desde domingo, pô!
Saí furibunda do quarto e fui atrás da mulher da recepção, que nunca está na recepção. Desci até o restaurante e o garçom (que é um gurizão simpático), vendo a minha cara, perguntou o que tinha acontecido. Contei e ele começou a rir. Sentei braba e disse que não tinha graça. Ele continuou rindo e chamou o responsável. Quando o cara tava chegando, o garçom deu um grito: "ô, pá, quem é que defecou no banheiro dela?". Aí até eu ri, né...
Passado o momento de descontração, voltei à minha posição furibunda. Fiz todo um relato indignado e fiquei esperando ele chamar a senhora da limpeza. Ela chegou e perguntou o que tinha acontecido. Eu: "tem um cocô no meu banheiro e não fui eu que fiz!". Ela me olhou escandalizada e... tentou me convencer de que devia ser um cocô oriundo do quarto 5, que resolveu migrar para o quarto 2 (o meu)!! Era só o que me faltava. Expliquei o quanto aquilo era improvável e que era bem mais plausível que a pessoa que fez a limpeza do quarto tivesse aproveitado para dar uma descarregada (mas não uma descarga) no meu banheiro. Ela ficou indignada e disse que aquilo não poderia ter acontecido. Segundo ela, a outra senhora da limpeza nunca faria isso. E, com o rosto aliviado pela conclusão em que chegou, soltou a pérola: "ela não fez isso...deve ter dado a chave do quarto para outra pessoa depois de limpá-lo" (!!!!!). E saiu feliz para buscar o material de limpeza.